domingo, 2 de maio de 2010

O Peso da Água nas Costas Erradas


Quinta-feria passada, durante a minha última aula na Pós-Graduação (VIVAAAAA!), uma amiga levantou uma questão bastante oportuna: ela disse que tomou conhecimento da campanha Xixi no Banho, e agora "não sabia mais o que fazer com o xixi"?

Essa campanha, criada no ano passado pela ONG SOS Mata Atlântica, é muito interessante, afinal, cada descarga consome em média 12 litros de água. Fazendo as contas, se cada pessoa "guardar" um xixi para o banho, ao final de um mês terá economizado cerca de 360 litros de água. Mas, voltemos à sala de aula. Essa dúvida da amiga é reflexo da pressão que é feita em cima da sociedade, leia-se cidadãos, para evitar o desperdício e o consumo abusivo deste precioso bem. E será que essa pressão é justa?

Não quero fazer o papel de Advogado do Diabo - até porque, entre um e outro, eu prefiro o Diabo, acho ele mais ético - mas o percentual de água destinado para o uso doméstico é praticamente insignificante, se comparado aos demais, o que não justifica o desperdício, a má distribuição e a superexploração. De toda a água potável disponível no planeta, apenas 8% são destinados para o uso doméstico. A indústria fica com 12% e a agricultura e a pecuária consomem 80% de toda a água utilizada no mundo (principalmente na irrigação). Nada melhor do que alguns exemplos para deixar o cenário ainda mais claro: são necessários 20 litros de água para a produção de 1 litro de cerveja, 1.500 litros de água para se produzir 1kg de trigo e, para 1kg de carne industrializada, são gastos cerca de 10 mil litros (da criação do gado até a chegada do bife na mesa do consumidor).

Eis a minha indignação: não concordo com a forma de abordagem e o tratamento dados à questão da água, com o peso sendo colocado nas costas da população, como se nós fóssemos os únicos, os grandes culpados pelo propagado colapso mundial no fornecimento de água. Claro, todos nós temos a nossa parcela de responsabilidade e, principalmente, o dever de utilizar esse recurso natural com consciência. Mas essa pressão deve ser feita, de maneira ainda mais forte, junto à indústria e ao agronegócio, pois são os grandes responsáveis pelo desperdício de água, poluição, aquecimento global e todas as suas conseqüências.

Continuem utilizado a água com responsabilidade, economizem, reaproveitem, reutilizem e façam seu xixizinho no banho sem peso na consciência. Só não se permitam sofrer pressão sem fundamento. Vamos pressionar e cobrar uma mudança de postura das indústrias e dos latifundiários do agronegócio. Eles sim, podem, diretamente, evitar o caos. O lobby deles é muito forte junto aos governos, mas nós temos as nossas armas: voto e, principalmente, poder de escolha na hora da compra, boicote a produtos de empresas não-responsáveis. Já tá mais do que na hora de começarmos a usá-las de verdade e com inteligência, não acham?

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