terça-feira, 30 de março de 2010

Declaração de Rick Martin provoca surto de sinceridade


Meus caros, esse material merece chegar até vocês. Muito bom! Uahahuaha...
Fonte: http://www.revistapiaui.com.br/herald/post_92/Saida_do_armario_de_Ricky_Martin_provoca_surto_de_sinceridade.aspx

BRASIL - "A declaração de Ricky Martin, postada ontem no seu blog, na qual assume ser homossexual provocou uma avalanche de solidariedade. Centenas de artistas, cantores de axé e ex-BBBs resolveram abrir o jogo. Nas primeiras horas da manhã de hoje, circulava pelos bastidores do cinema nacional o bochicho de que Paulo César Pereio assumira que “é macho mesmo”. No seu programa da RedeTV, Luciana Gimenez disse aos prantos: “É um alívio finalmente poder dizer pro Brasil inteiro que não sou muito inteligente”. Durante o Bem, Amigos, Galvão Bueno admitiu “que se acha chatíssimo”. Na Bahia, Gilberto Gil declarou: “Não compreendo metade das coisas que digo”. Não tardou para chegar a noticia de que Roberto Justus convocaria uma coletiva de imprensa para anunciar que “era realmente bonito”.

Também foi grande o impacto da declaração de Ricky Martin nos meios políticos do país. Através de seu porta-voz, Paulo Maluf anunciou “que tenho e sempre terei contas no exterior”. José Roberto Arruda confidenciou que ainda guarda uma nota de dez reais na meia – “A título de recordação”, apressou-se em esclarecer. Mas foi a revelação de outro vulto da política nacional que causou o maior alvoroço no Congresso. “Eu não tenho aquilo roxo!”, gritava pelos corredores o senador que pediu para não ser identificado."

domingo, 28 de março de 2010

Futebol e Violência: uma realidade a cada dia mais comum


A cada rodada do Campeonato Pernambucano de Futebol as cenas de barbárie e violência se repetem nas ruas do Recife, protagonizadas por integrantes de "torcidas organizadas" dos três grandes clubes da capital - Fanáutico (Náutico), Jovem (Sport) e Inferno Coral (Santa Cruz). Hoje teve o clássico entre Sport x Santa Cruz, na Ilha do Retiro, vencido pelos donos da casa. Antes e depois do jogo, as duas torcidas tocaram o terror no Derby, na Av. Agamenon Magalhães e na Conde da Boa Vista.

No início do texto eu coloquei "torcidas organizadas" (entre aspas) porque essas pessoas não são torcedores, e sim marginais infiltrados nas torcidas. Antes dos jogos, assaltam os torcedores a caminho do estádio, não importando se são do mesmo time ou não, depredam o patrimônio público e privado, quebram ônibus e se envolvem em brigas com os adversários, o que muitas vezes acaba em morte. Após as partidas, o ritual se repete. Infelizmente, isso não se limita aos clássicos e muito menos tem relação com o resultado do jogo. Ontem, o Náutico (o meu time) venceu a Cabense, nos Aflitos, e os mesmos atos de vandalismo aconteceram. Eu não fui ao estádio, mas presenciei cenas lamentáveis no bairro da Encruzilhada, enquanto voltava do Recife Antigo com o meu filho, no mesmo horário em que acabara a partida nos Aflitos. Alguns membros da Fanáutico invadiram os ônibus, jogaram pedras nos táxis e em outros carros parados, gritavam palavras de violência e só se acalmaram quando a polícia entrou em ação. O pior disso tudo é que a polícia tem feito o seu trabalho, hoje, por exemplo, foram disponibilizados para o clássico quase setecentos policiais, o que coloca o governo numa tremenda saia justa, pois é inadimissível e inviável deslocar todo o contingente policial para uma simples partida de futebol. É uma situação muito delicada, principalmente porque Recife é uma das sedes da Copa de 2014.

Se as autoridades estão acertando no quesito contingente policial, a falha está na impunidade dos vândalos. Sempre a polícia detém alguns deles, que são conduzidos ao Juízado do Torcedor. Porém, as penas são muito leves e, o principal, os marginais não são impossibilitados de ir a outros jogos. A solução para o problema, que não se restringe a Recife, deve ser a mesma adotada pela Inglaterra, Alemanha, Turquia e outros países realmente comprometidos com a segurança e o bem-estar da sua população: além de prendê-los, de acordo com a gravidade do ato criminoso, a punição inclui pagamento de multa (pesada, diga-se de passagem), serviços comunitários (geralmente em hospitias, para ver de perto o sofrimento de vítimas da violência) e a criação de um cadastro desses bandidos, que são detidos a cada dia de jogo do seu time durante o tempo estipulado pelo Juiz (de Direito, lógico). E não pára por aí, eles são obrigados a participar de programas de educação psicossocial e cursos profissionalizantes, caso necessário.

Eu adoro futebol, tanto assistir como jogar. Mas, por conta da violência, faz mais de um ano que eu não vou ao estádio. Meu filho tem sentido falta, mas enquanto essa situação não mudar, futebol só pela TV - e olhe lá, porque com essa bolinha que o Náutico tá jogando...

Filosofias Urbanas - I


Os muros e prédios do Recife, principalmente os públicos, são constantemente alvo da ação de vândalos. Mas também servem como meio de protesto, como galeria de exposição para artistas fora do circuito comercial e trazem algumas mensagens bem originais:

No muro do cemitério de Santo Amaro, Recife: “Todos prometem e ninguém cumpre. Vote em ninguém!”

Na Avenida Mário Melo, Recife, próximo à Igreja Universal do Reino de Deus: “Prepara-te. Jesus voltará.” – Ao lado, e com outra letra: “Só por milagre!”

Numa porta do banheiro do Departamento de Engenharia de Pesca da UFRPE: “A maconha causa amnésia... e outras coisas que esqueci...” – Em outra porta: “Bem-aventurados os bêbados, porque eles verão Deus duas vezes.”

Num muro em frente a uma barbearia em Casa Amarela, Recife (provavelmente escrito por algum quase careca revoltado com o barbeiro que não concordou em cobrar meio corte): “Se o cabelo fosse importante nasceria dentro da cabeça e não fora!”

sexta-feira, 26 de março de 2010

Vai uma cervejinha aí?


Na última segunda, dia 22, quando foi comemorado o Dia Internacional da Água, a AMBEV lançou, em São Paulo, o “Movimento CYAN – Quem Vê a Água Enxerga seu Valor”. Esse movimento é, na verdade, uma grande campanha de mobilização para o uso racional da água e terá força maior junto à imprensa escrita e digital, onde os principais jornais e sites de notícias do país terão suas capas pintadas de azul (cyan), trazendo a mensagem: “quando você vê este azul, é a água chamando a sua atenção”, e levará o leitor a um anúncio de página dupla, também em tom cyan.

Muito boa a iniciativa da empresa, principalmente porque a produção de cerveja é um caso típico de desperdício industrial: mesmo sem levar em conta seus impactos indiretos (transporte, condicionamento, refrigeração etc.), origina um desperdício de água substancial (são necessários 20 litros para a produção de cada litro de cerveja) e de cereais (a China, por exemplo, importa 16 milhões de toneladas por ano para a produção de cerveja). Água e cereais, duas mercadorias raras nos países emergentes que, no entanto, são os maiores consumidores de cerveja.

As empresas fabricantes de cerveja devem incorporar novas técnicas e novas tecnologias ao seu processo produtivo no sentido de, pelo menos, minimizar os seus impactos. Existe uma organização belga, a Zeri (Zero Emissions Research Initiative) que se dedica ao desenvolvimento de iniciativas pioneiras em matéria de ecologia industrial. As soluções da Zeri são principalmente locais, baseadas em tecnologias simples e de pequeno orçamento, privilegiando uma implantação rápida. Um bom exemplo desenvolvido pela Zeri é a cervejaria Namibia Brewers, situada em Tsumeb, na Namíbia. Em princípio, não há nada em comum entre a cerveja, o pão, os cogumelos, os porcos, o metano e os peixes. No entanto, ao estudar o funcionamento dessa cervejaria, percebemos que todos esses produtos comercializáveis são fabricados a partir de subprodutos gerados pela atividade principal: a produção de cerveja.

Nessa cervejaria ecológica nada se perde, tudo se transforma: após a extração das proteínas necessárias à fabricação da cerveja, os restos de grãos são utilizados em padarias como substituto da farinha de trigo ou como substrato para o cultivo de cogumelos. Após a colheita dos cogumelos, o substrato, que se torna mais digesto e mais rico em proteínas, serve de alimento para uma criação de porcos, favorecendo o crescimento dos animais e melhorando a qualidade de sua carne. A água excedente da cervejaria é dada aos porcos e o circuito não pára por aí. Até os excrementos dos porcos são reintegrados ao sistema, digeridos alguns dias por bactérias, geram dois produtos: o metano, utilizado como fonte de energia na cervejaria (o excedente é comercializado), e uma solução fertilizante que, por sua vez, é digerida, graças à fotossíntese, por algas que alimentam uma piscicultura. A partir de matérias-primas exploradas pela produção de cerveja, a Namibia Brewers desenvolve uma cadeia de produtos derivados, gerando valor agregado em cascata.

Esse exemplo deve ser seguido pelas cervejarias brasileiras, principalmente pela AMBEV, a maior do mundo. Uma ação desse tipo fundamenta, verdadeiramente, qualquer campanha de conscientização para o uso racional da água.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Vendaval


O vento varre o mundo. E tenta limpar toda a sujeira da humanidade - sujeitinho determinado esse vento!

O vento dá ritmo e vida ao mar, que agradece formando ondas. Que se misturam com o vento e beijam os cocares dos coqueiros.

O vento destrói o que foi construído errado. E renova as esperanças, sob a forma dos ventos da mudança - na maioria das vezes incompreendidos, embora sempre necessários.

O vento, é Música Divina. E assovia, uiva, canta, ressoa dentro de mim - e de você. Eu sou a minha cara contra o vento, e minha alma a favor do vento. E sou o vento que bate em minha cara, e faz voar a minha alma pra bem longe de toda essa loucura.

terça-feira, 23 de março de 2010

Toda Criança é Bela. Toda.


Aconteceu na Rua da Aurora. Caminhava pela calçada, num final de tarde, enquanto contemplava a beleza metafísica do Recife refletida nas águas poluídas do Capibaribe.

Abri a agenda e pensei em escrever algo. Foi quando surgiu, na minha frente, um menino de rua, maltrapilho, raquítico, pedindo a minha caneta. Como essa era a única que eu tinha - e embora ainda não fizesse a menor idéia do que escrever - por impulso, disse que não. Mas me ofereci para desenhar um tubarão na sua mão, como faço com o meu filho.

Como num passe de mágica, de repente, me vi cercado por um monte de meninos, implorando que eu também desenhasse nas suas mãozinhas grossas e rachadas de sujeira. Uns queriam o símbolo do Batman, outros, preferiam uma bola de futebol ou um sorvete, e não faltou quem pedisse um dragão cuspindo fogo!

Então, no meio daquele rebuliço, notei um garotinho mais afastado do grupo, porém, com um brilho diferente no olhar. Ele sorriu, se aproximou e mostrou um celular desenhado na palma da sua mão:

- Tio, quem me deu esse celular foi o meu pai, que mora em São Paulo - disse ele.

- Que massa! E funciona bem mesmo? - perguntei.

- Ah, funciona! Mas de vez em quando dá fora de área... - E todos nós caímos na maior gargalhada.

segunda-feira, 22 de março de 2010

A Aritmética da Água


Hoje é o dia Mundial da Água, esse recurso natural indispensável para toda forma de vida. Mas será que estamos utilizando-a de maneira racional e responsável?

Atualmente, cerca de 1,1 bilhão de pessoas no mundo não tem acesso à água potável. Todos os dias, milhões de mulheres e crianças gastam horas à sua procura. Os moradores da periferia pagam até dez vezes mais por ela do que os habitantes de regiões urbanizadas. A falta de saneamento básico atinge 2,4 bilhões de pessoas. Cerca de 1,8 milhão de crianças morrem a cada ano de infecções transmitidas pela água insalubre.

Diante desse cenário dramático, a ONU se engajou em reduzir pela metade o número de seres humanos que não têm acesso a serviços vitais. Através do seu programa Objetivos do Milênio para o Desenvolvimento, espera que a comunidade internacional reconheça o direito fundamental de todo ser humano de dispor de pelo menos 20 litros de água potável por dia – gratuitos para os mais pobres. Mas os objetivos deste programa, assinado pelos 191 membros da Nações Unidas, não serão atingidos até 2015, o prazo previsto. Já está claro que a água não é prioridade nas despesas públicas, basta ver que os países lhe consagram menos de 1% de seu PIB – o orçamento militar do Paquistão, por exemplo, é 50 vezes maior do que o da água e saneamento, o que reflete a falta de compromisso com a população, sobretudo da zona rural, onde milhões sofrem de desnutrição e a situação só piora com o aquecimento global.

Além dos governos não darem à água a devida importância, a má distribuição, a superexploração e o desperdício são fatores agravantes. A agricultura e a pecuária consomem 80% de toda a água utilizada no mundo (principalmente na irrigação), contra 12% da indústria e 8% destinados ao uso doméstico. A conseqüência direta da superexploração e do aumento de áreas irrigadas é a baixa dos lençóis freáticos e a seca dos rios. Afinal, para produzir 1kg de trigo são necessários 1.500 litros de água e para 1kg de carne industrializada são gastos cerca de 10 mil litros! Assim, os recursos indispensáveis aos 6,5 bilhões de habitantes do planeta, que chegarão a 8 bilhões em 2030, são dilapidados aos poucos.

A ameaça de escassez deve motivar uma mudança radical de comportamento e práticas a nível global. As alterações climáticas e o desaparecimento das zonas úmidas, a poluição crescente e a má alocação de recursos contribuem para o aparecimento de desequilíbrios preocupantes. A urbanização galopante e a pavimentação maciça deixam os solos impermeáveis, provocando cheias e inundações cada vez mais constantes. As águas subterrâneas, cujo ritmo de renovação pode exigir dezenas de milhares de anos, são literalmente tomadas de assalto, em detrimento das necessidades das gerações futuras. Além do mais, as redes de distribuição pública de todo o mundo registram taxas de desperdício de 30% a 50%.

Devemos ter em mente o fato de que o aquecimento global modifica as características hidrológicas dos cursos d’água, com aumento ou diminuição das chuvas nas épocas certas. Temos de aprender a usar o nosso recurso mais precioso de maneira responsável e bem mais eficiente. Muitas indústrias e alguns países, como a Alemanha, já estão desenvolvendo com sucesso ações de reutilização da água tratada e aproveitamento da água das chuvas. O agronegócio deve rever urgentemente suas técnicas de produção e irrigação, com o desenvolvimento de novas tecnologias mais eficientes, buscando parcerias com universidades para este fim. E nós, cidadãos comuns, devemos adotar práticas responsáveis em nosso dia-a-dia, como, por exemplo, mudar a maneira de escovar os dentes. Este simples hábito, realizado da forma tradicional com a torneira um pouco aberta, gasta, em média, 11 litros de água, enquanto que poderia ser feito utilizando apenas 1 copo. A economia média seria de mais de 10,5 litros a cada escovação.

É preciso que todos lancem um novo olhar sobre a questão da água. O processo de mudança é fundamental e por isso mesmo precisa ser entendido com urgência e colocado em prática desde já. Por que não aproveitar o Dia Mundial da Água para iniciar esse processo? O meio ambiente e a vida agradecem!

sexta-feira, 19 de março de 2010

Dia de São José: dia de plantar o milho do São João


Hoje, 19 de março, é o dia de São José, um dos santos mais festejados do Brasil, principalmente no Nordeste - para os católicos, São José é o pai adotivo de Jesus. Aqui na nossa região, sobretudo no sertão, é também dia de plantar o milho que será consumido nas festas juninas. A tradição e devoção a São José são tão fortes que logo ao raiar o dia de hoje aconteceram queimas de fogos em vários pontos da cidade do Recife.

Em todo o Nordeste, ele é conhecido como o protetor dos agricultores. Daí o seu dia, que antecede a chegada do outono, ser o escolhido para o plantio de milho e feijão. No interior é dia de festa religiosa, com missas, ladainhas e procisões, e festa profana após o cultivo do milho, marcado por orações e pedidos de chuva. “Meu divino São José, imploro em vossos pés, mandai chuva com abundância, meu Jesus de Nazaré”. Com essa declamação, muitos agricultores imploram ao santo ajuda para ter um ano de abundância.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Perigo no mar: essa é a época dos tubarões.


“São as águas de março fechando o verão...”

O outono começa no próximo dia 21, mas já é sensível a mudança no clima – temperaturas mais amenas, pancadas de chuva, ventos mais fortes e marés mais altas. Estas características, sobretudo as três últimas, perduram até o mês de setembro e justamente nesse período foram registrados a maioria dos ataques de tubarões na Região Metropolitana do Recife.

A combinação desses fatores deixa as águas do nosso litoral ainda mais turvas, o que dificulta a visibilidade dos tubarões, aumentando o risco de incidente por erro de identificação. Dentre as espécies ocorrentes em nossas praias, duas são responsáveis pela maior parte dos ataques: o tubarão tigre e o cabeça-chata, sendo este último apontado por especialistas como o mais agressivo entre todas as espécies (para se ter uma idéia, foi feito um ranking Top 10, e o cabeça-chata deixou para trás pesos-pesados como o tubarão tigre, o tintureira, o mangona, o martelo e o grande tubarão branco). Encontrado nos oceanos do mundo inteiro, o tubarão cabeça-chata possui comportamento imprevisível e extremamente territorial, muitos cientistas afirmam que esta é a espécie mais perigosa para o homem, pois habita águas rasas e costeiras. Uma outra característica peculiar é a sua tolerância à água doce. Esses tubarões podem nadar vários quilômetros rio adentro, o que provavelmente os torna os maiores responsáveis por ataques a humanos dentre todas as outras espécies. Além de estarem espalhados por águas tropicais e subtropicais dos mares do mundo inteiro, o tubarão-cabeça-chata já foi encontrado a 4000 km no rio Amazonas, em Iquitos (Peru), no rio Mississipi (Estados Unidos), nos rios Ganges e Brahmaputra (Índia), no rio Zambezi (África), entre outros, e também no lago Nicarágua.

De acordo com pesquisadores do Centro de Pesquisa do Tubarão, na Flórida (Estados Unidos), o cabeça-chata é o animal com o mais alto nível de testosterona do planeta, o que explica ser ele o mais combativo e nervoso de todos os tubarões. O encontro com um animal desse, que pode medir até 3,5m, pode ser fatal para o ser humano. Seus dentes inferiores, pontudos, foram projetados para segurar a presa, enquanto os superiores, triangulares e serrilhados, cortam e arrancam a carne. Sua mordida provoca uma grande e profunda ferida capaz de mutilar membros e, muitas vezes, mortal, por hemorragia ou por infecção, esta última devido à enorme quantidade de bactérias presentes na boca do animal. Seu método de caça é a emboscada. Destemido, o cabeça-chata costuma atacar presas tão grandes quanto ele e, como se trata de uma espécie territorialista, a geografia submarina e o senso de defesa do seu território podem provocar um ataque. Mesmo que não se perceba, o tubarão pode se sentir acuado e/ou invadido com a presença humana em sua área. Assim, as vítimas humanas seriam vistas pelo cabeça-chata muito mais como invasores inadvertidos do que como presas. Essa tese é reforçada pelo fato da maioria dos ataques ocorrer com uma única mordida.

No caso específico do nosso litoral, o desequilíbrio ambiental (proveniente da poluição das águas, aterro de manguezais, construções irregulares por toda a orla, o Porto de Suape, a destruição de habitats marinhos, entre outros) agravou ainda mais o fator geográfico. Na Região Metropolitana de Recife existe um profundo canal, que se estende da praia do Paiva até a do Pina (incluindo toda a praia de Boa Viagem), utilizados como “refeitório” e “pousada” pelas espécies de tubarões, entre elas o cabeça-chata. Esse canal fica logo após a barreira natural de arrecifes, que tem algumas aberturas ligando a praia ao mar aberto, possibilitando a entrada dos tubarões na maré alta. Os principais pontos de abertura estão na praia de Piedade (em frente à igreja e ao Hospital da Aeronáutica) e em Boa Viagem (em frente ao Acaiaca, o point mais procurado por recifenses e turistas).

Em se tratando do tubarão cabeça-chata, o risco aumenta consideravelmente pelo fato dele conseguir nadar em águas muito rasas. Um caso clássico de ataque em águas rasas ocorreu em 2001, nos Estados Unidos. Na tarde do dia 06 de junho, o menino Jessie, de oito anos, brincava com seu irmão e com seu primo a cinco metros da areia, onde a água chegava à altura de seus joelhos, em Gulf Islands, na Flórida. De repente, seu irmão sentiu algo esbarrando em sua perna e logo após viu a dorsal do tubarão saindo mais de meio metro para fora da água. O tubarão mordeu o braço direito de Jessie, arrancando-o, juntamente com um pedaço de sua coxa direita. Ao ouvirem os gritos, seu tio, Vance, e outro homem que estavam a poucos metros, entraram rapidamente na água, mas já se depararam com um tubarão cabeça-chata, com 2,35m e 90kg, rolando com o braço direito do menino dentro de sua boca. O tio de Jesse, triatleta, conseguiu, na segunda tentativa, puxar o tubarão para a areia, com o braço de Jessie parcialmente engolido. Um policial matou o tubarão com quatro tiros para que pudessem retirar o braço do garoto e levar ao hospital. Jessie deu entrada no hospital quase morto, estava em choque e havia perdido quase todo o sangue do corpo. Após 12 horas de cirurgia, o seu braço foi reimplantado e Jessie permaneceu em coma por alguns meses, com os médicos temendo que ele ficasse com alguns danos cerebrais por ter ficado muito tempo sem sangue e sem oxigênio, o que realmente aconteceu. Jessie vive atualmente em uma cama e apresenta várias seqüelas. Na Internet há uma página chamada ‘Jessie Arbogast News Update’, que fornece notícias sobre a evolução de Jessie, a rotina de vida da sua família (o seu pai deixou o emprego para cuidar exclusivamente dele) e pede doações para seu tratamento.

Esse caso aconteceu nos Estados Unidos, mas pode acontecer com qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo. Por isso, todo cuidado é pouco, principalmente com crianças. Evitem tomar banho de mar durante esse período, de março a setembro, em especial no início da manhã e no final da tarde. Infelizmente, Recife vai ter que aprender a conviver com essa realidade dos tubarões e não há nada que podemos fazer para mudá-la. Já ouvi de muita gente que para resolver o problema é só acabar com os tubarões. Esse é o tipo de pensamento de pessoas que se deixam levar pela emoção e não têm conhecimento suficiente para entender o funcionamento da natureza e a função de cada espécie. Os tubarões exercem duas funções primordiais na manutenção do equilíbrio e da saúde da vida nos oceanos. Primeiro, como predadores situados no topo da cadeia alimentar, o equivalente oceânico aos leões africanos e tigres asiáticos, os tubarões asseguram um tipo de ordem nos oceanos. Mantêm o controle populacional de suas presas habituais e exercem importante papel na seleção natural ao predar os mais lentos e os mais fracos. Segundo, ao comerem os animais e peixes doentes, feridos ou mortos, os tubarões exercem também uma função importante na manutenção da saúde dos oceanos. Para entender melhor o que isso significa, basta ver a semelhante função do urubu no ambiente terrestre. Os urubus, assim como os grandes carniceiros, consomem um cadáver em questão de minutos. Se acabarmos com esses animais, as carniças passariam a ser consumidas por insetos, bactérias e micróbios, que levariam dias ou semanas nesse intento, e o nível de microorganismos no ar que respiramos seria insuportável ou até mesmo insalubre. No ambiente marinho ocorreria o mesmo. Lembrando que, ao eliminar qualquer espécie de uma cadeia alimentar, toda cadeia entra em colapso e esse colapso atingiria diretamente aos seres humanos.

Apesar de todas essas evidências e do real perigo que representam, as autoridades pernambucanas ainda não colocaram em prática as ações efetivas de educação da população e dos turistas para os riscos nesse período crítico, de março a setembro. O CEMIT (Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões) disponibilizou cartazes em todos os ônibus da Região Metropolitana do Recife, mas esta ação, que é por si só praticamente insignificante, perdeu o sentido porque, em menos de uma semana, os cartazes foram retirados para dar lugar a propagandas institucionais do consórcio que administra o transporte público. Além do mais, a imprensa deixa de cumprir uma de suas funções fundamentais, que é alertar a população – ao permanecer calada, passa a impressão de que está à espera do próximo ataque para produzir matérias mais interessantes, chamativas. Eu sempre fui apaixonado pelo mar e admirador desses incríveis animais. Uma das coisas que mais gosto de fazer na vida é surfar, mas desde quando os ataques começaram, na década de 1990, eu me dediquei a estudá-los e hoje os respeito ainda mais. Pegar onda, só quando tenho tempo de ir até Maracaípe... mas esse é o preço que estamos pagando por não respeitar a natureza em nome do crescimento a todo custo. Os tubarões, assim como todas as outras formas de vida marinha, são os verdadeiros donos do mar. E os ataques são apenas uma das conseqüências de não adotarmos a sustentabilidade nas nossas ações e escolhas do dia-a-dia.

sexta-feira, 5 de março de 2010

La Petit Mort

Libido. Palavra carregada de sensações e significados. O Aurélio traz duas definições para ela: "instinto e desejo sexual; energia motriz de todos os instintos de vida e da atividade criadora humana." Esta última, ampliada pelo conceito psicanalítico.

É um erro comum restringir a libido ao ato sexual. Ela o engloba. Somos animais libidinosos que, ao longo da nossa evolução, desenvolvemos a capacidade de canalizar a energia libidinal para diversos fins: escrever, pintar, praticar esportes, comer chocolate, trabalhar... e fazer sexo - por prazer e não apenas para procriar, como o restante da fauna.

Sigmund Freud, o pai da Psicanálise, destacou a importância do erotismo na vida já a partir do nosso nascimento. Para ele, a sexualidade é tudo o que está ligado à obtenção de prazer, e isso é fundamental para a nossa sobrevivência. Logo, escalar uma montanha, saborear um bom vinho, contemplar uma obra de arte, fazer compras... tudo isso é prazeroso. Afinal, o prazer da libido não se resume à satisfação genital, apenas culmina com ela.

Mas nada se compara ao prazer construído e sentido a dois. Os franceses, que ostentam orgulhosamente o título de especialistas na arte de amar, chamam o orgasmo de La Petit Mort - a pequena morte. Um momento instantâneo de morte, relaxamento corporal total. Eles, realmente, entendem do assunto. Essa pequena morte revigora, ressuscita, acalma, felicita, coloca um sorriso no rosto, faz bem ao corpo e à alma...

Então, que morramos felizes, muitas e muitas vezes, até o último dia das nossas vidas. Vive La Petit Mort!