sexta-feira, 26 de março de 2010
Vai uma cervejinha aí?
Na última segunda, dia 22, quando foi comemorado o Dia Internacional da Água, a AMBEV lançou, em São Paulo, o “Movimento CYAN – Quem Vê a Água Enxerga seu Valor”. Esse movimento é, na verdade, uma grande campanha de mobilização para o uso racional da água e terá força maior junto à imprensa escrita e digital, onde os principais jornais e sites de notícias do país terão suas capas pintadas de azul (cyan), trazendo a mensagem: “quando você vê este azul, é a água chamando a sua atenção”, e levará o leitor a um anúncio de página dupla, também em tom cyan.
Muito boa a iniciativa da empresa, principalmente porque a produção de cerveja é um caso típico de desperdício industrial: mesmo sem levar em conta seus impactos indiretos (transporte, condicionamento, refrigeração etc.), origina um desperdício de água substancial (são necessários 20 litros para a produção de cada litro de cerveja) e de cereais (a China, por exemplo, importa 16 milhões de toneladas por ano para a produção de cerveja). Água e cereais, duas mercadorias raras nos países emergentes que, no entanto, são os maiores consumidores de cerveja.
As empresas fabricantes de cerveja devem incorporar novas técnicas e novas tecnologias ao seu processo produtivo no sentido de, pelo menos, minimizar os seus impactos. Existe uma organização belga, a Zeri (Zero Emissions Research Initiative) que se dedica ao desenvolvimento de iniciativas pioneiras em matéria de ecologia industrial. As soluções da Zeri são principalmente locais, baseadas em tecnologias simples e de pequeno orçamento, privilegiando uma implantação rápida. Um bom exemplo desenvolvido pela Zeri é a cervejaria Namibia Brewers, situada em Tsumeb, na Namíbia. Em princípio, não há nada em comum entre a cerveja, o pão, os cogumelos, os porcos, o metano e os peixes. No entanto, ao estudar o funcionamento dessa cervejaria, percebemos que todos esses produtos comercializáveis são fabricados a partir de subprodutos gerados pela atividade principal: a produção de cerveja.
Nessa cervejaria ecológica nada se perde, tudo se transforma: após a extração das proteínas necessárias à fabricação da cerveja, os restos de grãos são utilizados em padarias como substituto da farinha de trigo ou como substrato para o cultivo de cogumelos. Após a colheita dos cogumelos, o substrato, que se torna mais digesto e mais rico em proteínas, serve de alimento para uma criação de porcos, favorecendo o crescimento dos animais e melhorando a qualidade de sua carne. A água excedente da cervejaria é dada aos porcos e o circuito não pára por aí. Até os excrementos dos porcos são reintegrados ao sistema, digeridos alguns dias por bactérias, geram dois produtos: o metano, utilizado como fonte de energia na cervejaria (o excedente é comercializado), e uma solução fertilizante que, por sua vez, é digerida, graças à fotossíntese, por algas que alimentam uma piscicultura. A partir de matérias-primas exploradas pela produção de cerveja, a Namibia Brewers desenvolve uma cadeia de produtos derivados, gerando valor agregado em cascata.
Esse exemplo deve ser seguido pelas cervejarias brasileiras, principalmente pela AMBEV, a maior do mundo. Uma ação desse tipo fundamenta, verdadeiramente, qualquer campanha de conscientização para o uso racional da água.
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