terça-feira, 1 de junho de 2010

Tubarões: é possível evitar um ataque.


Nesse fim de semana encontrei alguns amigos que não via há algum tempo, entre eles um brother de longas datas. Além de parceiro de surf, tocamos juntos no Porto Rico e pagamos algumas cadeiras do curso de Engenharia de Pesca, o qual só ele terminou, a vida me levou pra outros mares. Mas isso não afetou a minha paixão pelo mar e muito menos o meu interesse e fascínio por tubarões que, logicamente, foi o tema central de uma boa conversa.

Ele contou que durante um mergulho em Noronha topou com um tubarão Mako, que é potencialmente perigoso ao ser humano. Então, eu comentei que ainda não tive essa sorte, ainda não... Foi quando todo mundo disse que nós éramos loucos. Aí começamos a explicar que existem uma série técnicas que podem prevenir eventuais ataques, lembrando que nenhum método é 100% efetivo, pois se tratam de animais selvagens em seu hábitat e, como tais, têm comportamento imprevisível. Vou repassar essas dicas a vocês, que servem pra quem surfa, mergulha e nada.

Antes de qualquer coisa, deve-se ter em mente que grande parte dos tubarões, na maioria das vezes, tem medo do homem. No entanto, podem estar presentes, mesmo que não sejam vistos, e são atraídos principalmente por sangue, comida (peixe morto), objetos metálicos brilhantes e/ou contrastantes, vibrações de baixa freqüência e explosões. Um peixe debatendo-se na ponta de um arpão é um convite irrecusável para um tubarão, que possui a capacidade de detectar pequenos campos eletromagnéticos. Além disso, nunca é demais lembrar que em hipótese alguma se deve provocar um tubarão.

Considerando o fato do nosso litoral ser habitado por espécies agressivas, como o tubarão Cabeça-Chata e o Tigre, que colocaram Pernambuco no topo do ranking mundial de fatalidades provenientes de ataques, essas dicas são muito importantes porque podem diminuir as chances de ocorrer encontros ou interações indesejadas com esses incríveis animais. Então, vamos a elas:

• Antes de entrar no mar, seja para nadar, surfar ou mergulhar, procure se informar sobre a tábua das marés, observar o sentido das correntes marinhas, obter informações sobre a geografia marinha (localização de canais, pedras e buracos) e, principalmente, se existem registros de ataques na área e proximidades. Muitos ataques e outras ocorrências, como afogamentos, poderiam ser evitados se as vítimas tivessem esse devido cuidado;
• Não entre ou permaneça na água com ferimentos sangrando. As mulheres, então, devem evitar entrar no mar durante o período menstrual;
• Nadar, surfar ou mergulhar, sempre que possível, em grupo. Sozinho, você poderá tornar-se o alvo principal e único, e encorajar um ataque. Além do mais, muitas vítimas morrem por falta de socorro imediato;
• Evite nadar, surfar ou mergulhar nos períodos do amanhecer, do crepúsculo e à noite, quando os tubarões estão mais ativos e dispostos a se alimentar;
• Evite nadar ou mergulhar em águas turvas ou escuras. Nesses ambientes a vantagem sensorial é toda do tubarão. O mesmo vale em locais com mais de dois metros de profundidade, em estuários (áreas de manguezais), canais, bocas de baías e áreas portuárias (navios atraem espécies “nômades”, como o tubarão Tigre);
• Evite nadar ou mergulhar nos períodos de lua cheia e nova, que possuem as marés mais altas e permitem aos grandes tubarões chegar mais perto da praia, principalmente entre os meses de março a setembro, período onde ocorreram a maioria dos ataques na Região Metropolitana do Recife;
• Evite nadar ou mergulhar com jóias brilhantes, que podem simular o brilho das escamas dos peixes, e com roupas muito coloridas ou com grandes contrastes;
• Evite nadar ou mergulhar nas áreas utilizadas pela pesca comercial ou artesanal, especialmente se houver sinais de iscas na água ou atividade de alimentação. As aves marinhas são um bom indicador disso;
• Evite nadar ou mergulhar muito perto de cardumes nas áreas rasas, pois os mesmos costumam ser caçados por grandes predadores, como o tubarão Cabeça-Chata;
• O lixo também é um atrativo para os tubarões. Logo, evite nadar em estuários, baías e pontos de descarga e vazadouros de esgoto, o que é bastante comum em nosso litoral, infelizmente;
• Ao contrário do que se pensa, a presença de golfinhos e botos (o que tem ocorrido em algumas de nossas praias, como em Boa Viagem) não significa ausência de tubarões. Ambos, freqüentemente, capturam as mesmas presas;
• A praia não é lugar de animais domésticos. Por isso, mantenha os cachorros e outros animais fora da água. Além de uma questão de saúde e higiene, seus movimentos erráticos de natação são uma grande fonte de atração de tubarões, sobretudo em áreas de registro de ataques;
• Nunca agarre, monte ou se pendure em um tubarão. Seu couro áspero, coberto por dentículos dérmicos muito afiados, pode provocar graves feridas na pele humana e, como já foi dito, sangue atiça o tubarão;
• Se durante um mergulho ou natação você observar um cardume se comportando de forma estranha ou se agrupando e se compactando em grande número, é aconselhável deixar a área imediatamente, pois eles já podem ter detectado a presença de um predador de grande porte, como o tubarão;
• Se um tubarão for avistado, procure manter a calma e deslocar-se com movimentos lentos e coordenados. Caso o tubarão demonstre estar muito curioso, o que é bem provável de acontecer, tente sair da água, ainda de forma coordenada, sem dar-lhe as costas e nem perdê-lo de vista. Não entre em pânico. Para a maioria das pessoas é muito difícil manter a calma numa hora dessas, mas isso pode salvar ou custar a sua vida. Ao agir assim, possivelmente o tubarão irá apenas reconhecer a área, dando algumas voltas, e depois irá embora. Uma das modalidades de ataque mais comum entre os tubarões é o ataque furtivo (de surpresa), onde ele sabe que dificilmente a vítima esboçará alguma reação. Os tubarões preferem economizar energia a entrar numa luta;
• Se você estiver praticando mergulho autônomo (com cilindro), permaneça submerso até chegar ao barco. Você é mais vulnerável na superfície da água, porém, apenas nadar para o fundo nem sempre dá resultado. Então, caso não seja possível sair da água, procure ficar na posição vertical (as presas habituais do tubarão nadam na horizontal) e mova-se para um terreno defensivo, como um recife de coral ou uma grande pedra, e encare o tubarão. Apesar de todo o seu poder, o tubarão dispensa entrar numa luta para não perder energia e nem correr o risco de se machucar;
• Havendo investida do tubarão, tente atingi-lo com algum objeto no focinho, nos olhos ou fendas branquiais. Entretanto, é muito difícil saber quando o tubarão realmente atacará, pois poucas espécies apresentam mudanças visíveis em seu comportamento antes da ofensiva. No caso de um ataque, lute com todo o esforço possível. Ao contrário do que se pensa, não somos uma presa fácil para o tubarão;
• Para os pescadores submarinos, o tiro só deve ser dado como último recurso. Por mais inofensivo que pareça, um cação (tubarão de pequeno porte) ferido ou arpoado torna-se extremamente perigoso. Ao arpoar um peixe, não o leve junto ao seu corpo, já que peixe sangrando e agonizando é um excelente convite a qualquer tubarão. Utilize uma corda, uma bóia ou um barco para guardá-lo.

É isso meus caros. Pra quem não tem grana pra comprar um traje antitubarão (roupa de mergulho feita de uma trama de aço) ou um Shark Shield (repelente elétrico de tubarão), essas dicas podem ser muito úteis. Eu sei que muitos vão concordar com as pessoas que participaram da conversa e achar que eu e meu amigo somos loucos. Pode até ser, só um pouquinho... Mas, apesar de tudo, eu não me arrisco à toa, como nadar, mergulhar ou surfar na área crítica, que eu considero da Praia do Paiva até Ponta de Pedras. Admiro e respeito muito o mar e procuro estar sempre atento aos seus sinais, entrar em harmonia com ele. Se você não tem essa relação com o mar e ainda tem medo, o melhor é não entrar na água. É como diz aquele ditado: “se não agüenta a brincadeira, então não desça pra o playground.”

Um comentário:

  1. "Seu couro áspero, coberto por dentículos dérmicos muito afiados, pode provocar graves feridas na pele humana"

    Uau, que interessante, não sabia dessa nem daquela roupa (Shark Shield - repelente elétrico de tubarão), bizarro, mas interessante.

    Boas dicas, eu mesmo adoro nadar, acho que nao fico muito em areas de risco, mas é sempre bom saber essas dicas ^^.

    Mas se você ver um tubarao passando, vamos dizer, entre as suas pernas o que uma pessoa faria numa situação desesperadora como essa?

    Otimo post Beto. Beijos.

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