sábado, 31 de julho de 2010
As Sacolinhas e a Sustentabilidade
Nessa semana fui a evento sobre Comunicação e Sustentabilidade. A maior parte do público era de Jornalistas e profissionais de outras áreas da Comunicação.
O evento foi bastante interessante, mas deixou claro o quanto as pessoas ainda estão carentes de informações relacionadas à sustentabilidade, que pede uma mudança de pensamento e de comportamento. Algumas pessoas que participaram do evento já possuem uma certa bagagem de informações, porém, ou preservam a mesma maneira de agir ou encaram sob uma ótica romântica e que não apresenta resultados efetivos.
Em determinado momento do seminário, uma Jornalista da nossa cidade, que trabalha num veículo ligado a uma grande rede varejista, defendeu a iniciativa dessa rede de supermercados em incentivar a diminuição do uso de sacolas plásticas o que, segundo ela, colocava essa rede como um exemplo de empresa sustentável.
Então, pedi a palavra e disse que a iniciativa é válida, mas que o seu resultado prático é mínimo, pois essa campanha ainda está muito longe dos princípios da sustentabilidade. Ela fez uma cara de quem não entendeu - e de quem não gostou também - e eu continuei, dizendo que o impacto positivo desse tipo de campanha é insignificante frente aos padrões de consumo dos clientes, que continuam enchendo os carrinhos, e agora as sacolas de algodão ou lona, com um monte de trequinhos de R$ 1,99 porque são bonitinhos e baratinhos, mas não são necessários e terminam esquecidos nos armários de cozinha, onde depois de um tempo o destino final é o lixo, as ruas ou os nossos rios.
Segui explicando que uma empresa varejista só pode afirmar que é um exemplo de empresa sustentável no dia em que, além de muitas outras ações, desenvolver uma campanha voltada para o consumo consciente, já que a raiz de grande parte dos problemas ambientais é a produção de resíduos, fruto do consumismo desenfreado. Aí, a nossa amiga Jornalista sorriu e disse que isso era utópico, pois uma empresa varejista sobrevive das vendas. Então, eu sorri de volta e disse que na Europa, especificamente na França, o Carrefour desenvolve esse tipo de campanha há mais de cinco anos e, desde então, as suas vendas e sua pariticipação no mercado vem crescendo a cada ano, reflexo do ganho institucional aliado à sua marca que a aproximou ainda mais dos seus stakeholders, os seus públicos de interesse, formados por fornecedores, clientes, acionistas, sociedade, poder público, ongs entre outros.
Finalizei citando uma frase de dois escritores norte americanos (Andrew Savitz e Karl Weber): "empresa sustentável é aquela que gera lucro para os acionistas, ao mesmo tempo em que protege o meio ambiente e melhora a qualidade de vida das pessoas com quem mantém interações."
E assim, acabou o nosso pequeno debate, que foi muito esclarecedor pra todo mundo, inclusive pra mim.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
PESCA EM ALTO-MAR – II: A Tomada de Consciência e as Primeiras Ações de Controle
Como vimos no post anterior, nada escapa à passagem das traineiras, nem as fontes hidrotermais e os corais de águas frias, que compõem hábitats essenciais para a reprodução de espécies. Alguns deles levaram até 2 mil anos ou mais para se desenvolver. Porém, ao contrário dos peixes, essa riqueza toda não tem valor comercial e é simplesmente jogada de volta ao mar, após ser destruída durante as explorações de águas profundas.
Mas nem tudo está perdido. Aqueles que trabalham para salvar os ecossistemas marinhos de águas profundas obtiveram uma vitória importante: os países do Pacífico Sul deram razão à Coalizão pela Conservação do Mar Profundo (DSCC) ao adotar, em maio de 2007, uma moratória contra a pesca que ameaçava a região. Assim, a zona protegida passou a representar 25% do alto-mar mundial.
A DSCC também apelou à Assembléia Geral das Nações Unidas, solicitando a recomendação de uma moratória mundial em alto-mar. Mas, embora reconheça a legitimidade do problema, a ONU continua se escondendo atrás dos organismos regionais de gestão de pesca. A DSCC espera que a decisão adotada pelo Pacífico Sul tenha um efeito de bola de neve e acelere o movimento global.
Por ocasião da Conferência sobre Governo e Biodiversidade, ocorrida em Paris, em janeiro de 2005, Edward Osborne Wilson, cujo trabalho inspirou a criação da Agência para a Proteção do Meio Ambiente dos Estados Unidos, lembrou que “uma sociedade é definida não só pelo que cria, mas também pelo que escolhe não destruir”.
Depois de ter sido responsável pelo desaparecimento de parte considerável das riquezas costeiras, a humanidade pode escolher agora não destruir as riquezas ecológicas das profundezas.
PESCA EM ALTO-MAR – I: Ameaça à Biodiversidade Marinha
Quantas toneladas de peixes podemos extrair por ano dos mares? É possível aproveitar os nossos principais bancos de pesca de maneira sustentável?
O que há pouco tempo era inacessível, hoje está ao alcance das redes. Após esgotar os recursos das zonas costeiras, a indústria da pesca se voltou para o derradeiro eldorado que são os montes submarinos em alto-mar, abundantes em espécies raras e bem cotadas no mercado mundial.
Com motores mais potentes, redes maiores, sistemas de localização precisos e instrumentos eletrônicos sofisticados de navegação e detecção dos cardumes, as traineiras (navios pesqueiros) tornaram-se verdadeiras indústrias flutuantes e uma ameaça à biodiversidade marinha, pois conseguem vasculhar até 2 mil metros de profundidade – a foto abaixo é da cabine de comando da traineira norueguesa Harstad.
Com isso, as frotas financiadas pelos países ricos para procurar determinados peixes e crustáceos estão destruindo os últimos grandes reservatórios de biodiversidade marinha, um após o outro. Essa prática de exploração se parece mais com a utilizada por mineiros, que mudam de local à medida em que o minério se esgota, do que com uma gestão sustentável dos recursos vivos e frágeis. E, pra completar o quadro, as indústrias farmacêutica e de biotecnologia também estão interessadas nesses recursos.
Estima-se que 10 milhões de espécies vivam nas profundezas. Uma biodiversidade comparável à das grandes florestas tropicais. Seu nicho é justamente as zonas abissais, verdadeiras cadeias de montanhas submersas, com milhares e milhares de metros de altura, que se caracterizam pelo acentuado endemismo dos seres vivos e seu frágil equilíbrio biológico.
Todas as espécies de grande profundidade têm um ritmo de crescimento extremamente lento, a exemplo do olho-de-vidro laranja, ou peixe-relógio (Hoplostethus atlanticus). Conhecido pelo seu alto valor de mercado e presença garantida no cardápio dos melhores restaurantes das grandes capitais mundiais, esse peixe é uma das espécies de crescimento mais lento e com maior longevidade que conhecemos. Cada indivíduo demora cerca de 20 anos para chegar à idade adulta e pode viver até 150 anos. Durante a desova, esses peixes se concentram no topo das montanhas submarinas, tornando-se um alvo fácil para as traineiras. Esses fatores tornam esta espécie muito vulnerável à pressão da pesca (índice de vulnerabilidade de 73/100), o que tem levado ao progressivo esgotamento de muitas das suas populações - como mostra a primeira foto deste post.
Mas o olho-de-vidro laranja não é a única vítima da pesca predatória e destrutiva do seu hábitat. Os espinhéis (linhas de pesca com milhares de metros de comprimento e com uma infinidade de anzóis) matam várias aves marinhas e muitos peixes sem valor comercial, a pesca com dinamite e cianureto destrói os recifes de corais (hábitats de inúmeras espécies) e o arrasto das redes sobre as montanhas submarinas também mata corais ancestrais de crescimento lento, esponjas, estrelas-do-mar e outras espécies altamente vulneráveis, como tubarões, golfinhos, tartarugas, focas, leões marinhos, entre outras, que entram para as estatísticas da “pesca acidental” – foto abaixo.
Entre os anos 50 e 80, o volume global da pesca saltou de 17 milhões para 78 milhões de toneladas – índice que na última década começou a declinar e dar sinais de estresse em várias regiões, devido à diminuição drástica das populações de várias espécies. Além disso, espécies indesejadas (de baixo valor comercial) continuam sendo capturadas nas mesmas redes que pescam as que realmente interessam. Assim, estima-se que até 40 milhões de toneladas de peixes, quase todos mortos, são devolvidas anualmente aos oceanos.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Desaparecimento da biodiversidade: ameaça à espécie humana
A biodiversidade está recuando a tal ponto que alguns especialistas afirmam a probabilidade de sua sexta extinção em massa, depois das cinco ocorridas em eras geológicas anteriores. Este processo começou, provavelmente, desde o início do Antropoceno, a época em que o homem surgiu e dominou a Terra.
Em condições normais e estáveis de biodiversidade, uma espécie dura de 1 milhão a 10 milhões de anos, de acordo com estimativas dos paleontólogos. Mas, com a supremacia do Homo Sapiens, essa possibilidade foi fortemente perturbada e parece pouco provável que os seres vivos possam se perpetuar por tanto tempo assim.
Ao confundir a utilização da natureza com sua predação, o homem destrói os seres vivos cada vez mais rapidamente. As taxas anuais de extinção são de cem a mil vezes superiores em relação às existentes nas eras geológicas anteriores. As ameaças tradicionais de origem antrópica, que causam a destruição dos hábitats e a superexploração, são reforçadas pelas invasões biológicas, poluição, superpopulação humana e mudanças climáticas bruscas, de modo geral seguidas da alteração dos ciclos biogeoquímicos.
A fauna, a flora e os microorganismos resistem cada vez menos às pressões: 83% da superfície terrestre são afetados pela “pegada humana”, ou seja, pelo espaço de terra necessário para as atividades do homem. A quantificação da diversidade dos seres vivos é constantemente reavaliada, atualmente, ela está em torno de 3,6 milhões de espécies. Mas as perspectivas são sombrias. Foi estimado que mais de um quarto desse número, ou seja, 1 milhão delas, pode desaparecer até 2050.
Essa questão é particularmente crucial para os 34 hotspots, sítios biogeográficos que abrigam, em apenas 2,3% da superfície do planeta, 50% das plantas vasculares e 42% dos vertebrados terrestres. Para ser considerado um hotspot (ponto quente) da biodiversidade, a região deve atender a dois critérios: abrigar pelo menos 1.500 espécies de plantas vasculares endêmicas (que só ocorram naquele local) e ter perdido pelo menos 70% de seu hábitat original, o que a determina como particularmente vulnerável. O Brasil abriga dois hotspots: o cerrado, que tem sido transformado em pastagem e vem sofrendo os efeitos da desertificação, e a mata atlântica, o mais degradado.
Além disso, a área de distribuição histórica de 173espécies emblemáticas de mamíferos, por seis continentes, diminuiu 50%. Um terço das florestas do mundo foi derrubada após as primeiras civilizações agrícolas. E a carne de caça ainda condena à morte anualmente dezenas de milhões de animais, particularmente na Amazônia e na bacia do Congo. Desaparecimento de indivíduos, de populações e, finalmente, da espécie: o processo está bem estabelecido... Ele é acompanhado por uma desorganização da cadeia alimentar (produtores, consumidores e decompositores), em que os ecossistemas são atingidos como um todo porque sua produtividade e estabilidade, até mesmo evolutiva, dependem da diversidade dos tipos funcionais das espécies que abrigam.
Mesmo de um ponto de vista utilitário, passa quase despercebida a infinidade de bens e serviços fornecidos pelos ecossistemas. Essas contribuições “gratuitas” puderam ser estimadas anualmente entre 2,9 trilhões e 38 trilhões de dólares. Para efeito de comparação, o PIB mundial representa 18 trilhões de dólares. Mas os homens são prisioneiros de sua avidez pelo consumo, o desejo de possuir mais do que o necessário. Irracionais e egoístas, não compreendem que a exploração não é análoga a uma colheita, que permite a renovação do recurso, mas ao extrativismo e à extração, até o esgotamento do filão. Para cada dez árvores cortadas no mundo, atualmente, só uma é (re)plantada.
Os seres vivos estão sendo esgotados, sem que o homem se preocupe com o que deixará para as gerações futuras. Em uma natureza morta, quais serão o lugar e a imagem do ser humano?
quarta-feira, 7 de julho de 2010
sábado, 3 de julho de 2010
EXCLUSIVO!
Assinar:
Postagens (Atom)