sexta-feira, 9 de julho de 2010

Desaparecimento da biodiversidade: ameaça à espécie humana


A biodiversidade está recuando a tal ponto que alguns especialistas afirmam a probabilidade de sua sexta extinção em massa, depois das cinco ocorridas em eras geológicas anteriores. Este processo começou, provavelmente, desde o início do Antropoceno, a época em que o homem surgiu e dominou a Terra.

Em condições normais e estáveis de biodiversidade, uma espécie dura de 1 milhão a 10 milhões de anos, de acordo com estimativas dos paleontólogos. Mas, com a supremacia do Homo Sapiens, essa possibilidade foi fortemente perturbada e parece pouco provável que os seres vivos possam se perpetuar por tanto tempo assim.

Ao confundir a utilização da natureza com sua predação, o homem destrói os seres vivos cada vez mais rapidamente. As taxas anuais de extinção são de cem a mil vezes superiores em relação às existentes nas eras geológicas anteriores. As ameaças tradicionais de origem antrópica, que causam a destruição dos hábitats e a superexploração, são reforçadas pelas invasões biológicas, poluição, superpopulação humana e mudanças climáticas bruscas, de modo geral seguidas da alteração dos ciclos biogeoquímicos.

A fauna, a flora e os microorganismos resistem cada vez menos às pressões: 83% da superfície terrestre são afetados pela “pegada humana”, ou seja, pelo espaço de terra necessário para as atividades do homem. A quantificação da diversidade dos seres vivos é constantemente reavaliada, atualmente, ela está em torno de 3,6 milhões de espécies. Mas as perspectivas são sombrias. Foi estimado que mais de um quarto desse número, ou seja, 1 milhão delas, pode desaparecer até 2050.

Essa questão é particularmente crucial para os 34 hotspots, sítios biogeográficos que abrigam, em apenas 2,3% da superfície do planeta, 50% das plantas vasculares e 42% dos vertebrados terrestres. Para ser considerado um hotspot (ponto quente) da biodiversidade, a região deve atender a dois critérios: abrigar pelo menos 1.500 espécies de plantas vasculares endêmicas (que só ocorram naquele local) e ter perdido pelo menos 70% de seu hábitat original, o que a determina como particularmente vulnerável. O Brasil abriga dois hotspots: o cerrado, que tem sido transformado em pastagem e vem sofrendo os efeitos da desertificação, e a mata atlântica, o mais degradado.

Além disso, a área de distribuição histórica de 173espécies emblemáticas de mamíferos, por seis continentes, diminuiu 50%. Um terço das florestas do mundo foi derrubada após as primeiras civilizações agrícolas. E a carne de caça ainda condena à morte anualmente dezenas de milhões de animais, particularmente na Amazônia e na bacia do Congo. Desaparecimento de indivíduos, de populações e, finalmente, da espécie: o processo está bem estabelecido... Ele é acompanhado por uma desorganização da cadeia alimentar (produtores, consumidores e decompositores), em que os ecossistemas são atingidos como um todo porque sua produtividade e estabilidade, até mesmo evolutiva, dependem da diversidade dos tipos funcionais das espécies que abrigam.

Mesmo de um ponto de vista utilitário, passa quase despercebida a infinidade de bens e serviços fornecidos pelos ecossistemas. Essas contribuições “gratuitas” puderam ser estimadas anualmente entre 2,9 trilhões e 38 trilhões de dólares. Para efeito de comparação, o PIB mundial representa 18 trilhões de dólares. Mas os homens são prisioneiros de sua avidez pelo consumo, o desejo de possuir mais do que o necessário. Irracionais e egoístas, não compreendem que a exploração não é análoga a uma colheita, que permite a renovação do recurso, mas ao extrativismo e à extração, até o esgotamento do filão. Para cada dez árvores cortadas no mundo, atualmente, só uma é (re)plantada.

Os seres vivos estão sendo esgotados, sem que o homem se preocupe com o que deixará para as gerações futuras. Em uma natureza morta, quais serão o lugar e a imagem do ser humano?

Um comentário:

  1. Pois é, é triste perceber como somos tão destruidores e egoístas. Agimos, nós, raça humana, como se o planeta girasse em torno dos nossos umbigos.

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