quarta-feira, 29 de setembro de 2010

MILAGRE MODERNO!

Três homens andaram sobre a água em toda a História da humanidade:
O primeiro foi Cristo.
O segundo foi Pedro.
O terceiro foi Ivangivaldo - esse cara aí da foto...












sábado, 25 de setembro de 2010

A BUSCA DE BRUCE – III: Tiro certeiro.


- Você já está indo embora? – pergunta ela.
- Bem, eu...
- Vamos beber alguma coisa. Dessa vez é por minha conta. – diz ela, puxando-o pela mão até o balcão do bar, onde ele se volta para ela:
- Heineken?
- José Cuervo.
- Antes você estava bebendo cerveja e agora tequila? – como se ele não soubesse.
- Ah – diz ela – eu comecei pela tequila naquele outro bar. Me acompanha?
Ele sorri positivamente.

Sentam-se em uma das mesas. Formando um laço saturado de álcool, discutem filmes, músicas e a quantidade de gente que está se mudando para Recife. Durante a conversa, ele descobre que ela se chama Sofia, tem 23 anos, era espancada pelo pai biológico, que também batia na mãe. O pai sumiu do mapa quando ela tinha 11 anos (para alívio de ambas) e, quando ela pensou que finalmente encontraria um pouco de paz, a mãe se envolve com outro canalha – sugestão de abuso – então, ela saiu de casa aos 14 anos e foi morar com uma tia-avó. Estudou, ralou e veio parar aqui.

A sua história de vida toca Bruce, mas a sua saia subindo pelas coxas, enquanto ela fala e gesticula, lhe chama mais a atenção. Ele também observa o seu jeito de falar e nota que, após cada respiração, ela passa a língua nos lábios. Ele também gosta da maneira como ela ajeita os cabelos. Na verdade, ela parece melhor do que Bruce se lembra do Burburinho. E ele não atribui isso ao álcool.

Duas e meia, começa a cair uma chuva fina. O movimento do bar fica ainda mais fraco e o DJ anuncia que vai rodar a última música: “Maracatu de Tiro Certeiro”, Chico Science & Nação Zumbi.

- A última? Já?! – Sofia parece desconsolada.
- Na minha casa tem mais bebida e uns CDs ótimos. – diz Bruce, tentando não dar bandeira de que ela é a sua última esperança da noite. – Fica a duas pontes daqui e o bar nunca fecha.
Ela parece estar considerando o convite, só precisa de um empurrãozinho.
- Minha casa fica às margens do Capibaribe e tem uma vista incrível – como se isso fizesse diferença.
- Talvez eu deva checar com meus amigos.
- Onde eles estão?
- Não sei... – ela ri e deixa escorrer uma gota de bebida pelo canto da boca, prontamente recuperada pela língua, o que atiça ainda mais Bruce.
- Eu tenho Heineken e José Cuervo no freezer. E também uma adega com excelentes vinhos...

A chuva fina e fria dá uma força. Bruce tira a jaqueta e a veste em Sofia. Abraçados, caminham até o Paço Alfândega, trocando os pés e com os quadris se entrechocando. Ele acena para um táxi, quando a chuva começa a ficar mais forte.

- Você não é um maníaco com uma faca ou coisa parecida, é? – diz Sofia antes de entrar no táxi.
- Não que você saiba.
Ela sorri e os dois se beijam.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A BUSCA DE BRUCE – II: Entre o céu e o inferno.


Bruce sai do prédio, no centro da Cidade, às margens do Capibaribe. Um vento frio com cheiro de maresia sopra forte, derrubando as flores vermelhas do velho flamboyant.

Passos firmes em direção ao Recife Antigo, distante duas pontes de sua casa. Enquanto caminha, observa os casais na Praça da República. Um deles chama a sua atenção pela maneira como se olhavam e trocavam carícias – e também pela beleza da garota. Então ele pensa em como aquele cara conseguiu uma mulher assim?...

Opções para a noite não faltam. Jazz na Casa da Moeda, Tributo ao The Doors no Burburinho, Hard-Rock no Armazém e no Novo Pina sempre tem a incansável jukebox, que só toca clássicos do Rock, o lugar ideal para uma cerveja gelada e uma conversa etílica, caso a noite não seja produtiva.

Primeira parada, Casa da Moeda. Ele acha o local agradável, mas não gosta da aparência de ostentação das pessoas que freqüentam "o novo point da Cidade". Bruce vem aqui por causa de Bia, uma garçonete com quem flerta casualmente. Mas assim que chegou soube que ela estava de folga comemorando o seu noivado. Isso deixou-o um pouco chateado.

Sai da Rua da Moeda e vai até a Tomazina, no Burburinho. Entra e segue direto ao bar, onde Sílvia, a bartender, lhe traz um uísque antes que ele peça. Bruce toma o uísque em duas talagadas e dá uma conferida no mulherio em meio aos bêbados que batem ponto toda semana.

Em uma mesa, próximo ao bar, ele vislumbra uma possibilidade: pele pálida, cabelos ruivos (provavelmente pintados), batom vermelho escuro, piercing no nariz. Cinco pessoas estão em sua mesa, duas outras mulheres, dois caras, nenhum casal formado. Ao lado da cerveja dela (Heineken) há um copinho de tequila vazio – dois bons sinais. Ele consegue uma mesa estrategicamente posicionada em frente a ela e observa mais alguns sinais enquanto aguarda o momento certo para uma investida. Bruce geralmente procura algum sinal de encorajamento pois, segundo crê, essa é uma das qualidades sutis que o distinguem dos outros caçadores. Não vendo nenhum, parte para outra.

Enquanto isso, a gata ruiva termina sua cerveja. Quando ela dá uma olhada em volta à procura de uma garçonete, ela o vê olhando em sua direção. Os olhares se cruzam, o dela se desvia e depois se volta para o dele discretamente – outro bom sinal.

Ela se levanta. Ele finge observar a banda, que toca “LA Woman”, até que percebe quando ela se aproxima. Ele olha para cima, simula surpresa ao vê-la e sorri. Ela devolve o sorriso e segue adiante. Era o sinal que ele tanto esperava.

Ele aguarda uns três segundos e a segue até o bar. Ela está vestindo uma blusa de costas nuas e uma saia preta, uma escolha corajosa para a estação esquizofrênica entre o inverno e a primavera. Bruce passa às costas dela e olha para Sílvia, que responde com outro uísque com gelo.

- O que você está bebendo? – pergunta ele à gata ruiva.
Ela hesita, mas depois diz:
- Heineken.
- E uma Heineken – repete para Sílvia enquanto paga.
- Obrigada – diz a gata ruiva.
- Não por isso.
- Você é daqui? – diz ela.
- Nascido e criado.
- Eu acabo de me mudar para cá. Consegui um emprego no Porto Digital.
- Hum, parabéns! De onde você é?
- Natal, Rio Grande do Norte.
- Então, seja bem vida a Recife!
A cerveja dela chega e eles tocam a garrafa e o copo em um brinde.
- Meus amigos e eu estamos pensando em ir até o “bar do Roger”, o amigo do Chico Science. Você conhece?
Ele anui com a cabeça, mas resolve não comentar que Roger já repassou o bar há uns dez anos e que o Novo Pina é, ao mesmo tempo, o símbolo do MangueBeat e da decadência do Recife Antigo.
- Talvez nos vejamos mais tarde, então?
Ele sorri, concordando. Enquanto ela volta à sua mesa.

Bruce inicia uma conversa com Sílvia e nem percebe quando a gata ruiva deixa o local. Após o show, sente o juízo final das duas da madrugada se abatendo sobre ele, já que conhece bem toda a miséria da carne que o espera em casa: deitar sozinho na cama e pensar em todas as mulheres que já teve e deixou escapar por não querer nada sério.

Decide ir para casa. Ao passar em frente ao Novo Pina, avista a gata ruiva acenando para ele como que para um amigo que há tempos não via. Na jukebox rola “Stairway to Heaven”, do Led Zeppelin. “Será a minha salvação?” – pensa ele.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A BUSCA DE BRUCE - I: A ficha caiu.


Sábado à noite, Bruce está em sua casa vasculhando seus CDs de Rock, Blues e Jazz. Entre os clássicos do Nirvana, Led Zeppelin, The Doors, Red Hot Chili Peppers, Deep Purple, The Rolling Stones, Black Sabbath, Iron Maiden, Metallica, ACDC, Ramones, Linkin Park, Radiohead, Pearl Jam, Cold Play, Pink Floyd, Glory Box, The Police, B.B King, Frank Sinatra, Steve Wonder, Simon & Garfunkel, Billie Holiday, Aretha Franklyn, Amy Winehouse, Norah Jones, entre outros, ele prefere começar a viagem com o “Misplace Childhood”, do Marillion. Som introspectivo, melancólico, boa escolha para quem está decidido a passar a noite em casa, pensando na vida.

Bruce está com trinta e cinco anos de idade, ou, como todos vêm dizendo desde quando fez aniversário na semana passada, está com quase quarenta. A idade em si nunca foi motivo de preocupação para ele. Mas ontem Bruce foi padrinho de casamento do seu melhor amigo e então caiu a ficha de que ele, apesar de quase todo fim de semana voltar para casa com uma mulher diferente, além das sempre providenciais “APS” (Amigas Pro Sexo), não passa de um caçador solitário. É justamente essa a causa de toda sua inquietação.

Seu plano é ficar em casa, curtindo um bom som e um bom vinho antes de dormir, coisas que ele preza muito, mas que há tempos não se dá ao prazer. Entretanto, antes do fim da segunda faixa (“Kayleigh”), Bruce se inquieta ainda mais. Com essa música a solidão e a nostalgia começam a pintar forte, justamente o que ele estava tentando evitar. Na parede do quarto está pendurada a sua prancha de surf, “como eu queria estar no mar”, pensa ele.

Abastece novamente a taça com um Merlot californiano e troca o Marillion pelo Red Hot Chili Peppers (“Around the World” sempre o deixa mais animado) e pensa em preparar alguma coisa para comer. Ele tem massa, molho pronto, creme de leite, queijo, camarão, azeite, alho, noz moscada e alcaparras, o kit de sobrevivência para qualquer solteiro, além do mais, cai bem com o vinho. “Antes de ‘Californication’ a comida ta pronta!”

Enquanto prepara o penne, decide abandonar o plano de ficar em casa. Neste exato instante a sua mente, como que por impulso automático, traz à tona a lista de APS: Maya (linda e louca, que conhecera há algumas semanas durante um festival de música), Isabel (com quem dividiu o altar no casamento do amigo – e a cama após a recepção), Maria Eduarda (vendedora da loja onde ele compra perfume e que sempre cobra um compromisso sério, sob pena de não mais sair com ele, mas sempre volta atrás), Simone (uma ex-namorada que sempre liga a fim de um flash back) e Hannah (repórter fotográfica, surfista, linda – sua APS preferida).

Apesar das possibilidades viáveis, Bruce opta por sair só. Ele está cansado dessa vida de lobo desgarrado e decide que chegou a hora de encontrar alguém para sossegar e tocar uma vida normal. Cada uma das suas APS tem o seu encanto, como qualquer mulher, mas falta algo. Algo que Bruce não sabe bem o que é, embora saiba que isso vai despertar nele o desejo de dormir com ela toda noite e acordar no meio da madrugada só para admirar a sua beleza enquanto ela dorme...

Dez e quarenta, no som rola “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana. Bruce veste seu jeans surrado, uma camiseta preta e sua jaqueta de couro marrom com três listras amarelas nas mangas (igual à de “Wolverine”, nos filmes dos “X-Men”), presente de Hannah. Ele sorri ao lembrar dela e percebe que os dois têm muito em comum e que Hannah já o conhece relativamente bem. Ainda assim, prefere sair só.

No chão, perto dos seus tênis, encontra a edição do mês da “Trip” e da “Caros Amigos”, ambas ainda embaladas. Retira os plásticos, dá uma folheada rápida (especialmente na “Trip Girl”) e coloca as revistas na mesa de cabeceira, com a “Trip” embaixo da “Caros Amigos”. Nesta noite, tudo o que ele mais deseja é encontrar uma mulher que fique impressionada com esta última, mas sabe que o mais provável é encontrar alguém que conheça bem a primeira. Pode ser que ele volte para casa sozinho. Mas, quem precisa de planos para isso?