terça-feira, 21 de setembro de 2010

A BUSCA DE BRUCE – II: Entre o céu e o inferno.


Bruce sai do prédio, no centro da Cidade, às margens do Capibaribe. Um vento frio com cheiro de maresia sopra forte, derrubando as flores vermelhas do velho flamboyant.

Passos firmes em direção ao Recife Antigo, distante duas pontes de sua casa. Enquanto caminha, observa os casais na Praça da República. Um deles chama a sua atenção pela maneira como se olhavam e trocavam carícias – e também pela beleza da garota. Então ele pensa em como aquele cara conseguiu uma mulher assim?...

Opções para a noite não faltam. Jazz na Casa da Moeda, Tributo ao The Doors no Burburinho, Hard-Rock no Armazém e no Novo Pina sempre tem a incansável jukebox, que só toca clássicos do Rock, o lugar ideal para uma cerveja gelada e uma conversa etílica, caso a noite não seja produtiva.

Primeira parada, Casa da Moeda. Ele acha o local agradável, mas não gosta da aparência de ostentação das pessoas que freqüentam "o novo point da Cidade". Bruce vem aqui por causa de Bia, uma garçonete com quem flerta casualmente. Mas assim que chegou soube que ela estava de folga comemorando o seu noivado. Isso deixou-o um pouco chateado.

Sai da Rua da Moeda e vai até a Tomazina, no Burburinho. Entra e segue direto ao bar, onde Sílvia, a bartender, lhe traz um uísque antes que ele peça. Bruce toma o uísque em duas talagadas e dá uma conferida no mulherio em meio aos bêbados que batem ponto toda semana.

Em uma mesa, próximo ao bar, ele vislumbra uma possibilidade: pele pálida, cabelos ruivos (provavelmente pintados), batom vermelho escuro, piercing no nariz. Cinco pessoas estão em sua mesa, duas outras mulheres, dois caras, nenhum casal formado. Ao lado da cerveja dela (Heineken) há um copinho de tequila vazio – dois bons sinais. Ele consegue uma mesa estrategicamente posicionada em frente a ela e observa mais alguns sinais enquanto aguarda o momento certo para uma investida. Bruce geralmente procura algum sinal de encorajamento pois, segundo crê, essa é uma das qualidades sutis que o distinguem dos outros caçadores. Não vendo nenhum, parte para outra.

Enquanto isso, a gata ruiva termina sua cerveja. Quando ela dá uma olhada em volta à procura de uma garçonete, ela o vê olhando em sua direção. Os olhares se cruzam, o dela se desvia e depois se volta para o dele discretamente – outro bom sinal.

Ela se levanta. Ele finge observar a banda, que toca “LA Woman”, até que percebe quando ela se aproxima. Ele olha para cima, simula surpresa ao vê-la e sorri. Ela devolve o sorriso e segue adiante. Era o sinal que ele tanto esperava.

Ele aguarda uns três segundos e a segue até o bar. Ela está vestindo uma blusa de costas nuas e uma saia preta, uma escolha corajosa para a estação esquizofrênica entre o inverno e a primavera. Bruce passa às costas dela e olha para Sílvia, que responde com outro uísque com gelo.

- O que você está bebendo? – pergunta ele à gata ruiva.
Ela hesita, mas depois diz:
- Heineken.
- E uma Heineken – repete para Sílvia enquanto paga.
- Obrigada – diz a gata ruiva.
- Não por isso.
- Você é daqui? – diz ela.
- Nascido e criado.
- Eu acabo de me mudar para cá. Consegui um emprego no Porto Digital.
- Hum, parabéns! De onde você é?
- Natal, Rio Grande do Norte.
- Então, seja bem vida a Recife!
A cerveja dela chega e eles tocam a garrafa e o copo em um brinde.
- Meus amigos e eu estamos pensando em ir até o “bar do Roger”, o amigo do Chico Science. Você conhece?
Ele anui com a cabeça, mas resolve não comentar que Roger já repassou o bar há uns dez anos e que o Novo Pina é, ao mesmo tempo, o símbolo do MangueBeat e da decadência do Recife Antigo.
- Talvez nos vejamos mais tarde, então?
Ele sorri, concordando. Enquanto ela volta à sua mesa.

Bruce inicia uma conversa com Sílvia e nem percebe quando a gata ruiva deixa o local. Após o show, sente o juízo final das duas da madrugada se abatendo sobre ele, já que conhece bem toda a miséria da carne que o espera em casa: deitar sozinho na cama e pensar em todas as mulheres que já teve e deixou escapar por não querer nada sério.

Decide ir para casa. Ao passar em frente ao Novo Pina, avista a gata ruiva acenando para ele como que para um amigo que há tempos não via. Na jukebox rola “Stairway to Heaven”, do Led Zeppelin. “Será a minha salvação?” – pensa ele.

2 comentários:

  1. No primeiro post ele me pareceu um sedutor irresistível; agora parece mais desesperado, heim? rs

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  2. Bruce tá meio perdido sobre o que realmente quer da vida. Nos próximos posts conheceremos mais um pouco essa figura.

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