sábado, 25 de setembro de 2010

A BUSCA DE BRUCE – III: Tiro certeiro.


- Você já está indo embora? – pergunta ela.
- Bem, eu...
- Vamos beber alguma coisa. Dessa vez é por minha conta. – diz ela, puxando-o pela mão até o balcão do bar, onde ele se volta para ela:
- Heineken?
- José Cuervo.
- Antes você estava bebendo cerveja e agora tequila? – como se ele não soubesse.
- Ah – diz ela – eu comecei pela tequila naquele outro bar. Me acompanha?
Ele sorri positivamente.

Sentam-se em uma das mesas. Formando um laço saturado de álcool, discutem filmes, músicas e a quantidade de gente que está se mudando para Recife. Durante a conversa, ele descobre que ela se chama Sofia, tem 23 anos, era espancada pelo pai biológico, que também batia na mãe. O pai sumiu do mapa quando ela tinha 11 anos (para alívio de ambas) e, quando ela pensou que finalmente encontraria um pouco de paz, a mãe se envolve com outro canalha – sugestão de abuso – então, ela saiu de casa aos 14 anos e foi morar com uma tia-avó. Estudou, ralou e veio parar aqui.

A sua história de vida toca Bruce, mas a sua saia subindo pelas coxas, enquanto ela fala e gesticula, lhe chama mais a atenção. Ele também observa o seu jeito de falar e nota que, após cada respiração, ela passa a língua nos lábios. Ele também gosta da maneira como ela ajeita os cabelos. Na verdade, ela parece melhor do que Bruce se lembra do Burburinho. E ele não atribui isso ao álcool.

Duas e meia, começa a cair uma chuva fina. O movimento do bar fica ainda mais fraco e o DJ anuncia que vai rodar a última música: “Maracatu de Tiro Certeiro”, Chico Science & Nação Zumbi.

- A última? Já?! – Sofia parece desconsolada.
- Na minha casa tem mais bebida e uns CDs ótimos. – diz Bruce, tentando não dar bandeira de que ela é a sua última esperança da noite. – Fica a duas pontes daqui e o bar nunca fecha.
Ela parece estar considerando o convite, só precisa de um empurrãozinho.
- Minha casa fica às margens do Capibaribe e tem uma vista incrível – como se isso fizesse diferença.
- Talvez eu deva checar com meus amigos.
- Onde eles estão?
- Não sei... – ela ri e deixa escorrer uma gota de bebida pelo canto da boca, prontamente recuperada pela língua, o que atiça ainda mais Bruce.
- Eu tenho Heineken e José Cuervo no freezer. E também uma adega com excelentes vinhos...

A chuva fina e fria dá uma força. Bruce tira a jaqueta e a veste em Sofia. Abraçados, caminham até o Paço Alfândega, trocando os pés e com os quadris se entrechocando. Ele acena para um táxi, quando a chuva começa a ficar mais forte.

- Você não é um maníaco com uma faca ou coisa parecida, é? – diz Sofia antes de entrar no táxi.
- Não que você saiba.
Ela sorri e os dois se beijam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário