segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A BUSCA DE BRUCE - I: A ficha caiu.


Sábado à noite, Bruce está em sua casa vasculhando seus CDs de Rock, Blues e Jazz. Entre os clássicos do Nirvana, Led Zeppelin, The Doors, Red Hot Chili Peppers, Deep Purple, The Rolling Stones, Black Sabbath, Iron Maiden, Metallica, ACDC, Ramones, Linkin Park, Radiohead, Pearl Jam, Cold Play, Pink Floyd, Glory Box, The Police, B.B King, Frank Sinatra, Steve Wonder, Simon & Garfunkel, Billie Holiday, Aretha Franklyn, Amy Winehouse, Norah Jones, entre outros, ele prefere começar a viagem com o “Misplace Childhood”, do Marillion. Som introspectivo, melancólico, boa escolha para quem está decidido a passar a noite em casa, pensando na vida.

Bruce está com trinta e cinco anos de idade, ou, como todos vêm dizendo desde quando fez aniversário na semana passada, está com quase quarenta. A idade em si nunca foi motivo de preocupação para ele. Mas ontem Bruce foi padrinho de casamento do seu melhor amigo e então caiu a ficha de que ele, apesar de quase todo fim de semana voltar para casa com uma mulher diferente, além das sempre providenciais “APS” (Amigas Pro Sexo), não passa de um caçador solitário. É justamente essa a causa de toda sua inquietação.

Seu plano é ficar em casa, curtindo um bom som e um bom vinho antes de dormir, coisas que ele preza muito, mas que há tempos não se dá ao prazer. Entretanto, antes do fim da segunda faixa (“Kayleigh”), Bruce se inquieta ainda mais. Com essa música a solidão e a nostalgia começam a pintar forte, justamente o que ele estava tentando evitar. Na parede do quarto está pendurada a sua prancha de surf, “como eu queria estar no mar”, pensa ele.

Abastece novamente a taça com um Merlot californiano e troca o Marillion pelo Red Hot Chili Peppers (“Around the World” sempre o deixa mais animado) e pensa em preparar alguma coisa para comer. Ele tem massa, molho pronto, creme de leite, queijo, camarão, azeite, alho, noz moscada e alcaparras, o kit de sobrevivência para qualquer solteiro, além do mais, cai bem com o vinho. “Antes de ‘Californication’ a comida ta pronta!”

Enquanto prepara o penne, decide abandonar o plano de ficar em casa. Neste exato instante a sua mente, como que por impulso automático, traz à tona a lista de APS: Maya (linda e louca, que conhecera há algumas semanas durante um festival de música), Isabel (com quem dividiu o altar no casamento do amigo – e a cama após a recepção), Maria Eduarda (vendedora da loja onde ele compra perfume e que sempre cobra um compromisso sério, sob pena de não mais sair com ele, mas sempre volta atrás), Simone (uma ex-namorada que sempre liga a fim de um flash back) e Hannah (repórter fotográfica, surfista, linda – sua APS preferida).

Apesar das possibilidades viáveis, Bruce opta por sair só. Ele está cansado dessa vida de lobo desgarrado e decide que chegou a hora de encontrar alguém para sossegar e tocar uma vida normal. Cada uma das suas APS tem o seu encanto, como qualquer mulher, mas falta algo. Algo que Bruce não sabe bem o que é, embora saiba que isso vai despertar nele o desejo de dormir com ela toda noite e acordar no meio da madrugada só para admirar a sua beleza enquanto ela dorme...

Dez e quarenta, no som rola “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana. Bruce veste seu jeans surrado, uma camiseta preta e sua jaqueta de couro marrom com três listras amarelas nas mangas (igual à de “Wolverine”, nos filmes dos “X-Men”), presente de Hannah. Ele sorri ao lembrar dela e percebe que os dois têm muito em comum e que Hannah já o conhece relativamente bem. Ainda assim, prefere sair só.

No chão, perto dos seus tênis, encontra a edição do mês da “Trip” e da “Caros Amigos”, ambas ainda embaladas. Retira os plásticos, dá uma folheada rápida (especialmente na “Trip Girl”) e coloca as revistas na mesa de cabeceira, com a “Trip” embaixo da “Caros Amigos”. Nesta noite, tudo o que ele mais deseja é encontrar uma mulher que fique impressionada com esta última, mas sabe que o mais provável é encontrar alguém que conheça bem a primeira. Pode ser que ele volte para casa sozinho. Mas, quem precisa de planos para isso?

3 comentários:

  1. É nada. Mas é perfeitamente verossímil. Além do mais, eu não faria tanto sucesso quanto Bruce. Na verdade, essa é uma obra de ficção e qualquer semelhança com pessoas, lugares ou situações será mera coincidência.

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