terça-feira, 13 de abril de 2010

Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável - I


O desenvolvimento sustentável é uma postura de progresso contínuo, que demanda um comprometimento sem falhas e uma humildade real, principalmente por parte das empresas. Vale salientar que este último ponto não é, com certeza, o mais fácil para as empresas brasileiras, cujos muitos dirigentes ainda estão impregnados por nossa cultura das elites, onde o “bom” dirigente é aquele que sabe tudo e não erra nunca.

Após estudar o comportamento de empresas dos Estados Unidos e do Brasil, foi possível estabelecer diferenças culturais e suas implicações em termos de gestão, sobretudo em situações de crise, onde o estilo norte-americano é de longe mais eficiente que o nosso. Para melhor visualizar o contexto, imaginemos as empresas dos dois países como mães acompanhando os filhos num parque infantil. Quando uma criança cai, tentando uma nova experiência no escorregador ou no balanço, volta chorando para os braços da mãe. Esta, se for brasileira, na maior parte das vezes, consola o filho dizendo: “Ta vendo? Você ainda é muito pequeno para fazer isso. Fique aqui com a mamãe pra não se machucar. E só volte lá quando estiver maior.” Se for norte-americana, também o consolará, mas com estas palavras: “Não faz mal se você caiu. Nós caímos pra aprender a nos levantar. Eu sei que você consegue. Volte lá e tente de novo, dessa vez vai dar tudo certo.”

Eu não sou defensor do “american-way”, mas esse exemplo é uma realidade, e serve para nos lembrar de que não aprendemos em nossa cultura ou em nosso sistema educacional as virtudes pedagógicas da derrota e as virtudes experimentais do erro, com raríssimas exceções. Além disso, prova que boa parcela dos nossos empresários não possui duas características, que na verdade são valores, fundamentais para se alcançar o desenvolvimento sustentável: a humildade e a transparência. À primeira vista, muitos podem questionar a relação entre esses valores e o desenvolvimento sustentável. Mas os relatórios de sustentabilidade, publicados pelas empresas mais avançadas em seus engajamentos sociais e ambientais, sempre trazem declarações de dirigentes reconhecendo seus erros, comprometendo-se a compreender melhor os impactos das suas atividades que ainda controlam mal e mesmo expondo honestamente os dilemas aos quais são confrontados. Afinal, a responsabilidade socioambiental consiste em colaborar com os outros para melhor determinar os desafios, em um diálogo constante com os stakeholders (partes interessadas), em aplicar o princípio da precaução toda vez que os impactos forem incertos e os efeitos irreversíveis e, por fim, em prestar contas regularmente dos avanços realizados na compreensão dos problemas e na elaboração das soluções.

Desse ponto de vista, a via do desenvolvimento sustentável abre perspectivas incríveis de parcerias entre o setor produtivo (as empresas) e o setor não lucrativo (associações ou ONGs ambientais). Há muito pouco tempo, esse tipo de relação era apenas comercial ou de mecenato, a ONG emprestando sua marca a uma campanha em troca de receber apoio financeiro para suas ações. Hoje, as empresas estão se engajando em parcerias e anunciando que esperam ajuda de seu parceiro não lucrativo a fim de melhorar suas práticas e fixar objetivos de progresso. Humildade e transparência: esse é o preço da credibilidade.

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