domingo, 18 de abril de 2010

O Verdadeiro Tesouro na Botija


Quando eu era pequeno, o meu Avô Materno, Vovô Faraó, sempre me contava a mesma história: a de um tesouro na botija. Segundo ele, era uma história verídica e aconteceu no bairro da Madalena, onde viveu boa parte da sua vida, até a adolescência.

Corria um boato de que o tesouro pertenceu a um patriarca, proprietário do engenho que deu origem ao bairro. E que, desde a sua morte, jamais fora encontrado. O tempo passou, e o bochicho correu solto, até chegar ao ponto em que todos diziam que o tesouro estava enterrado no quintal de um velhinho todo mequetrefi, morador de uma casinha caindo aos pedaços. Ao início de cada mês, o velhinho, que aparentava estar nas últimas, se levantava da cama e saía para receber a aposentadoria. Certo dia, aproveitando a ausência do velhinho, alguns garotos do bairro pularam o muro da casa determinados tirar a história a limpo e, de preferência, encontrar o lendário e desejado tesouro. Após cavarem o quintal quase todo, encontraram, enterrada ao lado de uma imponente pitombeira, uma botija coberta de trapos - na verdade era um antigo baú de madeira, muito bem protegido por uma lapa de cadeado!

Tentaram abri-lo ainda na casa do velhinho, mas o cadeado resistiu bravamente. Então, levaram o baú. Quando, finalmente, venceram o cadeado, descobriram que o baú estava cheio de cartas. Mas não eram cartas comuns, eram cartas de amor que o senhor de engenho recebera da amante ao longo de sua vida. Os garotos, após arremessarem o cadeado pra bem longe, queriam queimar as cartas junto com o baú. Mas um deles achou aquilo tudo muito inusitado e, depois de muita conversa, convenceu os demais a enviarem as cartas ao velhinho, uma por uma, a cada semana.

A partir daí, no início da tarde de toda segunda-feira, o velhinho estava lá, sentado num tamborete em frente à sua casa. Ele já não era mais aquele velhinho todo mequetrefi. Havia rejuvenescido: banho tomado, barba bem feita, cheirando a Lavanda Inglesa e vestido com o seu terno desbotado aguardava, ansiosamente, o carteiro aparecer na esquina para sair em disparada ao seu encontro. O carteiro, que já sabia, trazia a sua carta nas mãos. A emoção do velhinho era tão intensa, que da esquina o carteiro conseguia ouvir as batidas daquele coração cansado, enlouquecido de felicidade por receber na porta de casa uma razão para viver, sob a forma de palavras de amor, palavras de mulher...

Confesso que na época não entendia porque Vovô sempre repetia a mesma história, embora achasse muito engraçada – Vovô era um exímio contador de histórias. Hoje, eu desconfio que ele era um dos garotos, se essa história aconteceu mesmo... Infelizmente, eu não tenho como confirmar nada disso, pois Vovô partiu quando eu tinha apenas dez anos e, só alguns anos depois, eu compreendi o significado dessa história: que o verdadeiro tesouro não reside no dinheiro, nas jóias, nos bens materiais. Claro, são importantes. Mas o Amor, a Compaixão, a Integridade, a Felicidade, a Dignidade, enfim, são o verdadeiro tesouro que enriquece e engrandece a alma.

2 comentários:

  1. Então, comigo teve um primo, eu tinha uns sete/oito anos, e qdo a gente ia na casa dele, com um quintal enorme(era como eu via na época) e não sei pq ele tinha q brincar com a gente(eu e meu irmão), só q ele já era adolescente e, claro, achava muito chato e criou q tinha um tesouro nesse quintal e disse pra gente cavar até encontrar, pulava o muro e sumia...foi meu primeiro contato profundo com a terra(q lá era um tesão), via algumas de suas camadas, minhocas e outros bichinhos , matéria orgânica seca e em decomposição...a porta aberta, o universo. Acho q seu vovô Faraô (q fofo) não só era um dos garotos, como foi o q teve a idéia das cartas... q tbe fez amèlie poulain, e gente q sai por aí construindo e doando esperança, alegria, amor... e transformando pessoas. Adorei! Muita paz e alegria!

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  2. Pois é, ninguém melhor que um faraó pra contar sobre as riquezas dessa vida.

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