terça-feira, 26 de outubro de 2010

Encalhe de Baleias: o que podemos e o que não devemos fazer?


Artigo de Alerta - Por Marcelo Szpilman*

A notícia abaixo, divulgada ontem no Globo Online, soma-se a tantas outras que vem comovendo as pessoas e promovendo calorosos debates em torno dessa questão.

Baleia encalha na praia de Geribá, em Búzios:

RIO (25/10/10) - Uma baleia jubarte, com cerca de 15 metros e 30 toneladas, está encalhada desde o início da tarde na Praia de Geribá, em Búzios, a cerca de dez metros da areia.

Segundo o fotógrafo Sérgio Quissak, que está no local, a baleia está muito agitada. Duas traineiras de grande porte estão tentando puxar a baleia para alto mar, mas ainda não tiveram sucesso. Cerca de 300 pessoas acompanham o resgate da jubarte.

- No Brasil não temos equipamento adequado para puxar uma baleia deste porte. Além disso, ao que tudo indica, ela já chegou debilitada na praia. Está se fazendo o possível para salvar a baleia, mas é uma operação muito difícil - disse o prefeito Mirinho Braga, que comanda a equipe da prefeitura que tenta salvar a baleia.


A visão do triste espetáculo da baleia encalhada costuma provocar em nós a ânsia de ajudá-la e, quem sabe, até salvá-la da morte. E não é difícil explicar as correntes humanas que se formam para ajudar esses cetáceos ou as aglomerações comovidas pela impotência diante do sofrimento do animal. Mas, diferente do que gostaríamos, esse é um evento da natureza sobre o qual o homem pouco pode interceder.

Dos esporádicos casos de encalhes de grandes cetáceos vivos acontecidos nos últimos 20 anos, muito poucos resultaram em desencalhe. Ainda assim, grande parte do êxito nesses poucos casos de sucesso deve-se quase que exclusivamente às condições da maré e da praia em que o animal encalhou. Ou seja, a interferência do homem não faz parte dos fatores que ditam a sorte da baleia encalhada.

Pode-se empurrar ou puxar uma baleia encalhada?

Como ainda não existem equipamentos adequados, as bem intencionadas manobras para empurrar ou puxar o animal resultarão em inócuas tentativas improvisadas de resgate, estresse ou mesmo danos à sua estrutura corporal. Quem frequenta a praia sabe que um homem adulto de 80 kg sentado na areia na beira da água cria um buraco e afunda na medida em que as ondas batem. Nessas circunstâncias, empurrar ou puxar, na tentativa de "desencalhar" essa pessoa, não são as melhoras medidas, mas sim levantá-la. Com uma baleia pesando dezenas de toneladas e sem nenhuma intenção de ajudar, é impossível arrastar ou levantar.

O que podemos fazer?

A melhor ajuda que podemos dar a uma baleia encalhada é isolar a área para que os curiosos e bem intencionados não atrapalhem ou machuquem o animal. Com raras exceções, somente a sorte e a própria natureza podem interceder a favor da baleia nesse momento. Somente ela poderá tentar desencalhar-se sozinha. Se não conseguir desencalhar-se em até 24 horas, o enorme estresse e os danos provocados em sua estrutura física e em sua fisiologia, que não foram projetados para suportar tamanho peso e compressão fora d’água, passam a determinar seu fim. Quando o animal encalha na maré alta, seu desencalhe é praticamente impossível - caso da baleia que encalhou ontem em Geribá.

Porque as baleias encalham?

As causas naturais do encalhe de baleias podem ser as mais variadas, indo de doenças que provocam problemas no senso espacial a equívocos ou inexperiência no cerco de um cardume de sardinhas. Contudo, não podemos nos esquecer que o encalhe de baleias sempre foi e sempre será um evento incomum da natureza do qual os homens não participam.

Porque houve aumento de encalhe de baleias?

O aumento do número de baleias encalhadas, curiosamente, tem a ver com o aumento das populações de baleias no litoral brasileiro. Graças à proibição da pesca da baleia e ao excelente trabalho de proteção e preservação que vem sendo realizado há mais de 18 anos pelo Projeto Baleia Jubarte e pelo Projeto Baleia Franca, a quantidade de baleias que hoje nadam ao longo do nosso litoral em suas rotas migratórias aumentou bastante, o que também aumentam as chances de um encalhe.
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Maiores informações entre em contato com oInstituto Ecológico Aqualung:
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Tels: (21) 2558-3428 ou 2558-3429 ou 2556-5030
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E-mail: instaqua@uol.com.br
Site: http://www.institutoaqualung.com.br

*Marcelo Szpilman, Biólogo Marinho formado pela UFRJ, com Pós-Graduação Executiva em Meio Ambiente (MBE) pela COPPE/UFRJ, é autor do livro GUIA AQUALUNG DE PEIXES, editado em 1991, de sua versão ampliada em inglês AQUALUNG GUIDE TO FISHES, editado em 1992, do livro SERES MARINHOS PERIGOSOS, editado em 1998/99, do livro PEIXES MARINHOS DO BRASIL, editado em 2000/01, do livro TUBARÕES NO BRASIL, editado em 2004, e de várias matérias e artigos sobre a natureza, ecologia, evolução e fauna marinha publicados nos últimos anos em diversas revistas e jornais e no Informativo do Instituto Aqualung. Atualmente, Marcelo Szpilman é diretor do Instituto Ecológico Aqualung, Editor e Redator do Informativo do citado Instituto, diretor do Projeto Tubarões no Brasil (PROTUBA) e membro da Comissão Científica Nacional (COCIEN) da Confederação Brasileira de Pesca e Desportos Subaquáticos (CBPDS).

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A BUSCA DE BRUCE – VII: Speak Low.


De longe, Bruce avista Hannah sentada em frente ao manguezal, no Pontal de Maracaípe. Ela rabisca algo na areia, provavelmente o seu nome, “ela adora escrever com o ‘h’ inicial e final maiúsculos (HannaH). Não muda, mesmo de trás pra frente.” – ele sorri.

Uma das coisas que Bruce mais curte em Hannah é o seu espírito de menina moleca, que sempre vem à tona em algumas brincadeiras bobas, como essa com o seu próprio nome. Com Hannah tudo flui naturalmente e Bruce se sente leve, em paz. Isso tudo o assustou antes, mas agora ele tem medo de não poder sentir mais essa liberdade.

Hannah está tão concentrada nos seus rabiscos que nem percebe a aproximação de Bruce. Ele, porém, observa cada movimento, cada gesto de Hannah. “Ela tá mais linda do que nunca”, pensa ele. “Sua pele bronzeada realça ainda mais o sinal que ela carrega no lábio superior – essa manchinha marrom no lado direito, que ela sempre reclamou, sempre me deixou louco! – e esse vestidinho branco destaca ainda mais os seus cabelos negros cacheados e todo o brilho dos seus olhos verdes...”

- Bom dia moça?

Hannah, ao ouvir a sua voz, pára de desenhar na areia, fecha os olhos e responde:

- Bom dia, Bruce... Você veio voando, cuidado rapaz.

Bruce senta de frente para Hannah e sorri, meio sem jeito.

- Você tá linda...
- E você tá nervoso. Eu nunca te vi assim antes. Será que Bruce tem coração?

Ele percebe o quanto Hannah está magoada. “Eu não posso cometer mais erros”, pensa ele.

- Hannah, eu passei a semana toda indo no seu apartamento. Hoje mesmo eu tava lá antes das 08h e vim de Recife, dirigindo feito um louco, pra a gente conversar numa boa. Eu sei que vacilei, fiz muita merda mesmo, mas nunca te iludi. A gente nunca falou assim um com o outro. Por favor, se desarma e me ouve. Se depois você quiser que eu desapareça da sua vida, é assim que vai ser. Mas, por favor, conversa comigo.
- É Bruce, você tá diferente mesmo. O Wolverine recolheu as garras, desculpa.
- ... Hannah, essas semanas longe de você foram os piores momentos da minha vida. Eu demorei a admitir, mas eu gosto de você, menina. Você não faz idéia do quanto eu senti a sua falta.
- Dá pra imaginar como você ficou mal, Bruce. Mas você saiu com quantas nesse período pra ficar bem?

“Mulher magoada é foda!” – pensa ele, lembrando das palavras da sua mãe.

- Tudo bem, saí com algumas. Mas me sentia péssimo depois, o que já vinha acontecendo há um bom tempo. E já faz mais de uma semana que não saio com ninguém, isso porque não quero outra que não seja você, Hannah.
- E isso é pra valer, Bruce? Eu não quero me machucar mais. Eu sempre deixei claro que gostava de você e soube, sentia, que você também gostava de mim. Mas você nunca expressou isso e quando começávamos a engatar uma convivência mais constante, você sumia. Por quê?

Essas palavras atingiram a Bruce como dardos. A verdade é uma coisa bela e desconcertante. Mas ele respira fundo, segura Hannah pelos ombros e diz:

- Eu sei que fui um covarde por ter medo de aceitar o que sentia por você e, principalmente, de me envolver em algo de longo prazo. Mas agora eu acordei, Hannah, e quero ficar com você. Quando somos solteiros vivemos na esperança de um dia encontrar o nosso verdadeiro Amor. E essa esperança nos faz buscar, experimentar, só que vicia pra caramba. Mas, como todo vício, chega uma hora em que devemos dar ao diabo a sua paga, ou seja, os danos colaterais superam e muito o prazer. E eu já paguei mais do que devia por não aceitar o que sinto por você.
- E o que você sente por mim, Bruce?
- Eu te amo, Hannah...
- ... Me perdoa por ter sido egoísta durante tanto tempo. Fica comigo. Eu to aqui, inteiro, pra você, Hannah.

Hora do torturante silêncio de uns cinco segundos, mas que parece durar uma eternidade...

- Bruce, eu já tava disposta a nunca mais te ver. Aí você vem com essa... Quer me deixar louca é? – ela começa a esboçar um lindo sorriso, acompanhado de algumas lágrimas.
- Precisa não, você é louca por mim mesmo. Sempre foi... – os risos se transformam em gargalhadas.
- Você sabe que tudo tem que ser diferente, né Bruce? Cuida bem da gente.
- Vai ser diferente, Hannah. Eu vou cuidar bem da gente, junto com você. Tudo o que eu mais quero, Hannah, é dormir com você toda noite e te acordar a cada manhã, sem estar de ressaca, e dizer que você é linda, que é a mulher da minha vida e que eu te amo. Quero fazer isso pelos próximos trinta anos, no mínimo.

Os dois, então, se beijam como se fosse a primeira (ou a última) vez. Passam o fim de semana em Maracaípe, mas não surfam juntos de novo, pois só saem do quarto na hora de voltar para Recife.

Depois de três meses retornam a Maracaípe com os amigos e as famílias para se casar de uma maneira bem ao estilo deles: pela manhã rolou um campeonato de Surf e no final da tarde o casamento propriamente dito, numa cerimônia Indu à beira mar, seguida de um luau, com muita bebida e muito Rock’n Roll, tocado divinamente pela Má Companhia.

Bruce alugou a cobertura na rua da Aurora, ele sentiu que Hannah não ficava à vontade ali. E se mudaram em definitivo para Porto de Galinhas.

Eles não sabem se vai dar certo, nem quanto tempo vai durar. Mas, afinal, quem sabe? A vida é tão efêmera que só vale à pena se for vivida sem medo, principalmente de tentar ser feliz. E o que importa é que Bruce e Hannah estão tentando.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A BUSCA DE BRUCE – VI: Coming Back to Life.


Sete horas da manhã e Bruce já está no banho. Determinado, em poucos minutos chega ao prédio de Hannah. Novamente, o porteiro diz que ela não está. Bruce saca o celular e liga para Hannah, disposto a só parar quando ela atender, ou então quando descarregar toda a bateria. Após várias ligações e recados na caixa postal, ela atende:

- Bruce?...
- Oi Hannah. Como você ta?
- Seguindo. E você?
- Eu quero te ver Hannah. Preciso conversar com você.
- É? Sobre o quê, Bruce?
- Sobre a gente, Hannah. Eu...
- Bruce, não existe a gente. Nunca existiu, você sempre deixou isso bem claro. Só que agora eu não quero mais isso pra mim!
- Hannah, esse é o tipo de conversa que eu não gosto de ter por telefone. Onde você ta? Eu passo aí pra a gente conversar.
- ... Eu to em Porto, com minhas amigas. – diz Hannah, após uma pausa e um suspiro.
- Hannah, não tem bronca, to indo pra aí agora! A gente conversa e depois eu prometo que te deixo em paz, se você quiser. Mas, por favor, vamos conversar... Sabe, Hannah, a Mamãe tem perguntado bastante por você.
- Sua mãe é um amor, Bruce. Eu adoro ela... Mas eu não sei se é uma boa você vir pra cá, eu vim com as meninas.

Bruce sabe que as amigas de Hannah não o vêem com bons olhos. Acham que ele sempre a enrolou. De certa forma, elas estão certas. Por isso mesmo ele também sabe que precisa se esforçar mais.

- Hannah, não é só Mamãe que sente a sua falta. Eu também... Eu preciso muito te ver. Nós precisamos muito conversar.
- Bruce, faz isso não... eu preciso cuidar da minha vida. Eu não sei mais se...
- Ei, menina. Sou eu. To saindo daqui, da portaria do seu prédio, agora. Chego já aí! – ele desliga o telefone, antes que Hannah tenha tempo de pensar em falar alguma coisa.

Pega o carro e segue em direção a Porto de Galinhas, especificamente a Maracaípe. Inicia a viagem com “Sitting, Waiting, Wishing”, de Jack Johnson, seguido de REM, Man at Work, Couting Crows e outros sons que remetem ao Surf, lembrando que há um bom tempo não pega uma onda.

Essas músicas também fazem ele se lembrar do dia em que conheceu Hannah: foi durante uma etapa do WQS (Divisão de Acesso do Campeonato Mundial de Surf), em Maracaípe. Hannah fazia a cobertura para uma revista especializada e ele representava a empresa onde trabalha, patrocinadora da competição. Após alguns olhares, Bruce puxou uma conversa, ela o entrevistou e na mesma noite saíram. “Já se passaram mais de dez meses! Como fui cego durante tanto tempo? Tomara que eu não tenha estragado tudo.”

Assim que chega em Maraca, encontra as amigas de Hannah, que não escondem a insatisfação ao vê-lo, principalmente uma delas, Sheyla. Antes de dizer a Bruce que Hannah foi caminhar em direção ao Pontal, Sheyla pede a ele que só vá atrás de Hannah se realmente tiver certeza do que quer, e se isso vai ser bom para ela.

Bruce não fala nada. Apenas olha para Sheyla e anui com a cabeça. Ela olha firme para Bruce, muda o semblante e deixa escapar um breve sorriso. “Seria um ‘boa sorte’, ou um ‘você vai se foder cumpade’? Bem, deixa quieto. Ninguém tem o direito de julgar ninguém.” – pensa ele.

Antes de sair correndo atrás de Hannah, Bruce pára em frente ao mar e repete o seu ritual de agradecimento, permissão e proteção, que sempre faz antes de surfar: chega até a beira da praia e pisa firme algumas vezes, se ajoelha, pega um pouco de areia com a mão direita, passa para a esquerda, esfrega a areia nas mãos, depois as molha na primeira onda, passa um pouco de água na testa e na nuca, abre os braços, fecha os olhos e respira fundo.

Esse ritual dura pouco mais de um minuto, mas é tempo suficiente para Bruce entrar em harmonia com o mar e sentir se deve ou não cair na água. Bruce respeita muito esse feeling e acredita ser essa a razão de nunca ter passado por nenhuma situação de grande perigo. Hoje, ele repete o ritual não para pedir permissão e proteção, mas sim para agradecer a chance de se acertar com Hannah onde tudo começou, além da sensação de como se estivesse emergindo da escuridão que era a sua vida.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A BUSCA DE BRUCE – V: Semana punk.


Já passam das 11h, quando Bruce e Sofia acordam. A dor de cabeça dos dois é grande, mas não supera a vergonha de Sofia. Bruce diz que não tem problema algum, mas ela se desculpa e pede para ele chamar um táxi.

Apesar do ocorrido, o saldo foi positivo. Sofia é uma mulher bonita, inteligente e rolou uma química legal entre eles. Mas o que fez a noite valer a pena mesmo foi Bruce ter despertado para a certeza de que Hannah é tudo o que ele tanto procurava.

Mais cedo Bruce foi acordado por um telefonema da sua mãe, lembrando o aniversário do seu sobrinho, filho do seu irmão mais velho. A sua mãe pediu para ele levar Hannah, de quem ela gostou muito (Hannah acompanhou Bruce em alguns eventos de família, tipo almoço de domingo). “Vou ligar agora pra Hannah. Almoçamos juntos, conversamos e depois vamos à festa de Enzo.” – essa idéia fez ele sorrir.

Bruce, então, liga para a casa de Hannah, dispara e entra a caixa postal. Procura o celular e liga para ela uma, duas, três vezes. E nada dela atender. Assim que chega à festa do sobrinho, a sua mãe pergunta por Hannah, o que deixa Bruce com um ar de tristeza.

- Meu filho, você não acha que já está na hora de assumir que você gosta de Hannah e tratá-la como sua namorada? Ela é diferente daquelas outras com quem você sai, já se conhecem muito bem, ela gosta de você de verdade e vocês formam um belo par.
- Eu sei, Mãe. A Senhora ta certa. Eu não queria admitir, mas também gosto demais de Hannah. Tenho sentido muito a sua falta.
- E o quê você ta esperando, Bruce?
- Encontrá-la, Mãe. Quando sair daqui passo na casa dela, eu não quero perder mais tempo.
- Mas tenha cuidado, meu filho. Se Hannah sumiu é porque está magoada e não quer falar com você, não do jeito que você sempre conduziu. Seja sincero. Não tenha medo de viver o que a vida traz de bom para você.

Bruce ouve atentamente as palavras da sua mãe e fica pensativo durante toda a festa. Por volta das 20h, Bruce se despede da família, dos amigos e segue direto para a casa de Hannah. Ao parar em frente ao prédio, nota que as luzes do apartamento estão apagadas. Mesmo assim, vai até a portaria e fica sabendo que ela viajou desde sexta à noite. O porteiro não soube dizer com quem nem para onde e essa dúvida tirou o sono de Bruce.

A semana de trabalho foi puxada, com algumas reuniões se estendendo pela noite, mas Bruce sempre dava um jeito de ligar para Hannah, que não atendeu a uma única ligação sequer. Toda noite, na volta do trabalho, Bruce passava no prédio de Hannah, mas nem sinal dela.

Na sexta à noite uns amigos do trabalho o convenceram a sair para tomar uma no Recife Antigo. Destino, Novo Pina, em companhia da boa e velha Jukebox roqueira. Bruce escolhe as duas primeiras músicas: “In Through the Outdoor”, do Led Zeppelin, e “Sympathy for the Devil”, dos Stones, mas pelo Guns’n Roses. “Slash destruiu Keith Richards nos solos dessa música!” – esse pensamento sempre vem à tona quando Bruce escuta esse som.

A partir daí, outros clássicos do Rock vieram acompanhados de muita cerveja e, com o passar das horas, o bar começou a encher e possibilidades interessantes começaram a surgir, como uma loura na mesa ao lado e uma morena na mesa em frente. Bruce conferiu rapidamente e percebeu que ambas davam alguns dos sinais que ele está acostumado a identificar.

Os seus amigos apostaram entre si com qual das duas ele ficaria e exigiram que ele entrasse em ação. Por impulso, Bruce se animou a entrar na onda, mas aí ele lembrou de Hannah, de tudo o que passou nas últimas semanas, da sua vida. Então, disse aos amigos que todos perderam a aposta, ele não ficaria com mulher alguma.

Apesar da insistência dos caras e da tentação da loura, da morena e de uma ruiva que pintou na saída, Bruce manteve-se firme em sua nova postura e, pela primeira vez em anos, foi para casa só e em paz consigo mesmo. “Logo cedo eu bato na porta de Hannah!” - dormiu repetindo essa frase.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Dilma "Verde"


Após quase se afogar na Onda Verde de Marina, Dilma deu uma entrevista ontem adotando um discurso típico de greenwashing (lavado de verde), onde disse que no segundo turno a sua campanha - e seu governo - será pautado no "Desenvolvimento Sustentável, mas com a promoção do crescimento do País e a geração de empregos."

Esse greenwashing de Dilma escancara a sua falta de conhecimento dos princípios e valores do Desenvolvimento Sustentável e seu consequente descompromisso com ele, que promove crescimento econômico em bases sólidas, geração de empregos, novas oportunidades de negócios, inclusão social, respeito e dignidade, além de outros benefícios que se estendem às futuras gerações, como a preservação do nosso patrimônio natural.

Se José Serra possui esse conhecimento e compromisso, eu confesso que não sei, ainda. Mas vou dar a ele o meu voto - e minha confiança.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A BUSCA DE BRUCE – IV: O prazer e a ressaca moral.


Ual! – diz Sofia ao ver o mar escancarado da cobertura de Bruce.

Sofia corre para as janelas, quase tropeçando em uma das tábuas soltas do piso. A chuva dá uma trégua e a lua começa a aparecer entre as nuvens carregadas.

- Que vista maravilhosa! – diz ela observando que, além do mar, também é possível contemplar o rio Capibaribe, o Recife Antigo, Boa Viagem e Olinda.
- Eu ficaria horas aqui, apenas admirando.

Bruce aproveita para conferir suas pernas e traseiro, apreciando e aprovando ambos, enquanto apanha a garrafa do Merlot californiano que abrira antes de sair de casa – “se desperdiçar comida é inadmissível, desperdiçar vinho é um crime”, pensa ele.

Neste instante, Sofia se vira para ele, agradece a taça de vinho, olha em volta e pede licença para fazer um tour pelo ap. Bruce sorri e ela segue examinando os racks rolantes cheios de camisetas brancas, pretas e alguns ternos, as centenas de CDs, DVDs e livros dispostos pelo chão, a rede, o edredom jogado na cama, a sua prancha de Surf pendurada na parede e não muita coisa mais.

- Adorei esse lugar! Você se divorciou há pouco tempo ou coisa parecida? – pergunta ela.
- Não. Nunca me casei.
- Há quanto tempo você mora aqui?
- Uns cinco anos, mais ou menos.
- O que você faz?
- Sou Engenheiro Naval. Trabalho no estaleiro, em Suape.
- Poxa, isso dá uma grana!
- Não dá pra reclamar.
- Você tem namorada, ou alguém especial?
- Namorada, no sentido real da palavra, não.
- Ah, mas tem alguém especial?
- (...) Tenho. Mas, nada sério.
- Então você é do tipo que não quer nada sério. Deve ser por isso que sai sozinho num sábado à noite... – diz ela.
- Sozinho? Você está aqui, comigo.
- Onde é o banheiro? – pergunta Sofia, com um ar de riso pela resposta de Bruce.
- Final do corredor, à esquerda. Ou então no meu quarto.

Enquanto Sofia sai da sala, Bruce se dirige ao som. Após uma breve busca nos CDs, coloca o álbum “Reflections”, do Apocalyptica. Bruce tem o hábito de ouvir um bom Rock enquanto está na cama com uma mulher e procura um som que tenha a ver com a personalidade dela ou, como ocorre freqüentemente, com as suas primeiras impressões. No caso, acredita ele, Apocalyptica combina com Sofia.

Sofia volta do banheiro. Entra no quarto de Bruce, vestindo apenas a sua jaqueta e calcinha. Bruce pára um instante e aprecia o corpo de Sofia. Ambos se entregam a um beijo demorado e começam a fazer amor ali mesmo, no chão do quarto. Quando finalmente chegam à cama, por volta da sétima faixa do CD, os dois são vencidos pelo cansaço, e pelo álcool. Bruce ainda tem forças para uma chuveirada rápida antes de dormir.

Menos de uma hora depois, Bruce acorda com um som bem familiar, Sofia vomitando. Ele vai até o banheiro e a encontra sentada no chão, abraçada à privada. Bruce se agacha ao seu lado, segura a sua mão (bastante fria) e a conduz até o chuveiro, ela mal pode andar. Quando volta ao quarto com Sofia, percebe que ela vomitou no chão, ao lado da cama. O vômito em si não é problema para Bruce, ele já está acostumado a essa situação, que se repete freqüentemente. Então ele percebe, naquele exato momento, que essa freqüência é o grande problema.

“Putz! Eu to com trinta e cinco anos e continuo saindo com o mesmo tipo de garotas que saía quando tinha vinte.” – pensa ele. “To cansado de viver assim. Eu quero uma mulher de verdade, e não menina. Mas pra isso tenho que me comportar como homem, e não como um menino.” – fala para si mesmo.

Bruce, então, lembra de Hannah. Pensa em ligar para ela, mas desiste ao olhar o relógio. A última vez em que estiveram juntos foi há mais de duas semanas e o clima pesou entre eles, Hannah não gostou de vê-lo com Maya e disse que estava cansada daquilo tudo, embora Bruce sempre tenha deixado a situação bem clara.

“Será que a falta de Hannah desencadeou tudo isso?” – pensa ele.

Enquanto olha Sofia pegar no sono, é tomado por uma forte e inevitável ressaca moral. A sensação de vazio toma conta de Bruce de forma tão intensa que ele lembra de uma piada de palhaço, contada por um amigo numa mesa de bar há alguns anos:

“Um homem vai a uma Psicóloga e diz que, há algum tempo, a sua vida não tem mais sentido, tudo perdeu a cor, a graça. E pede à Psicóloga que o ajude de qualquer maneira. Ele está desesperado.
A Psicóloga começa dizendo que todo mundo tem problemas e que a vida não é assim tão ruim. E finaliza pedindo ao homem para fazer coisas simples e diferentes, como aproveitar a chegada do ‘Grand Circus’, que tem como principal atração o ‘Fabuloso Felippo’, o melhor Palhaço do mundo!
O homem, então, olha firme para a Psicóloga e diz, aos prantos: - Doutora... eu sou o Fabuloso Felippo...”

Quando ouviu essa piada pela primeira vez, Bruce sorriu como menino. Hoje, ela já não tem a menor graça.