quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A BUSCA DE BRUCE – VI: Coming Back to Life.


Sete horas da manhã e Bruce já está no banho. Determinado, em poucos minutos chega ao prédio de Hannah. Novamente, o porteiro diz que ela não está. Bruce saca o celular e liga para Hannah, disposto a só parar quando ela atender, ou então quando descarregar toda a bateria. Após várias ligações e recados na caixa postal, ela atende:

- Bruce?...
- Oi Hannah. Como você ta?
- Seguindo. E você?
- Eu quero te ver Hannah. Preciso conversar com você.
- É? Sobre o quê, Bruce?
- Sobre a gente, Hannah. Eu...
- Bruce, não existe a gente. Nunca existiu, você sempre deixou isso bem claro. Só que agora eu não quero mais isso pra mim!
- Hannah, esse é o tipo de conversa que eu não gosto de ter por telefone. Onde você ta? Eu passo aí pra a gente conversar.
- ... Eu to em Porto, com minhas amigas. – diz Hannah, após uma pausa e um suspiro.
- Hannah, não tem bronca, to indo pra aí agora! A gente conversa e depois eu prometo que te deixo em paz, se você quiser. Mas, por favor, vamos conversar... Sabe, Hannah, a Mamãe tem perguntado bastante por você.
- Sua mãe é um amor, Bruce. Eu adoro ela... Mas eu não sei se é uma boa você vir pra cá, eu vim com as meninas.

Bruce sabe que as amigas de Hannah não o vêem com bons olhos. Acham que ele sempre a enrolou. De certa forma, elas estão certas. Por isso mesmo ele também sabe que precisa se esforçar mais.

- Hannah, não é só Mamãe que sente a sua falta. Eu também... Eu preciso muito te ver. Nós precisamos muito conversar.
- Bruce, faz isso não... eu preciso cuidar da minha vida. Eu não sei mais se...
- Ei, menina. Sou eu. To saindo daqui, da portaria do seu prédio, agora. Chego já aí! – ele desliga o telefone, antes que Hannah tenha tempo de pensar em falar alguma coisa.

Pega o carro e segue em direção a Porto de Galinhas, especificamente a Maracaípe. Inicia a viagem com “Sitting, Waiting, Wishing”, de Jack Johnson, seguido de REM, Man at Work, Couting Crows e outros sons que remetem ao Surf, lembrando que há um bom tempo não pega uma onda.

Essas músicas também fazem ele se lembrar do dia em que conheceu Hannah: foi durante uma etapa do WQS (Divisão de Acesso do Campeonato Mundial de Surf), em Maracaípe. Hannah fazia a cobertura para uma revista especializada e ele representava a empresa onde trabalha, patrocinadora da competição. Após alguns olhares, Bruce puxou uma conversa, ela o entrevistou e na mesma noite saíram. “Já se passaram mais de dez meses! Como fui cego durante tanto tempo? Tomara que eu não tenha estragado tudo.”

Assim que chega em Maraca, encontra as amigas de Hannah, que não escondem a insatisfação ao vê-lo, principalmente uma delas, Sheyla. Antes de dizer a Bruce que Hannah foi caminhar em direção ao Pontal, Sheyla pede a ele que só vá atrás de Hannah se realmente tiver certeza do que quer, e se isso vai ser bom para ela.

Bruce não fala nada. Apenas olha para Sheyla e anui com a cabeça. Ela olha firme para Bruce, muda o semblante e deixa escapar um breve sorriso. “Seria um ‘boa sorte’, ou um ‘você vai se foder cumpade’? Bem, deixa quieto. Ninguém tem o direito de julgar ninguém.” – pensa ele.

Antes de sair correndo atrás de Hannah, Bruce pára em frente ao mar e repete o seu ritual de agradecimento, permissão e proteção, que sempre faz antes de surfar: chega até a beira da praia e pisa firme algumas vezes, se ajoelha, pega um pouco de areia com a mão direita, passa para a esquerda, esfrega a areia nas mãos, depois as molha na primeira onda, passa um pouco de água na testa e na nuca, abre os braços, fecha os olhos e respira fundo.

Esse ritual dura pouco mais de um minuto, mas é tempo suficiente para Bruce entrar em harmonia com o mar e sentir se deve ou não cair na água. Bruce respeita muito esse feeling e acredita ser essa a razão de nunca ter passado por nenhuma situação de grande perigo. Hoje, ele repete o ritual não para pedir permissão e proteção, mas sim para agradecer a chance de se acertar com Hannah onde tudo começou, além da sensação de como se estivesse emergindo da escuridão que era a sua vida.

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