terça-feira, 19 de outubro de 2010

A BUSCA DE BRUCE – VII: Speak Low.


De longe, Bruce avista Hannah sentada em frente ao manguezal, no Pontal de Maracaípe. Ela rabisca algo na areia, provavelmente o seu nome, “ela adora escrever com o ‘h’ inicial e final maiúsculos (HannaH). Não muda, mesmo de trás pra frente.” – ele sorri.

Uma das coisas que Bruce mais curte em Hannah é o seu espírito de menina moleca, que sempre vem à tona em algumas brincadeiras bobas, como essa com o seu próprio nome. Com Hannah tudo flui naturalmente e Bruce se sente leve, em paz. Isso tudo o assustou antes, mas agora ele tem medo de não poder sentir mais essa liberdade.

Hannah está tão concentrada nos seus rabiscos que nem percebe a aproximação de Bruce. Ele, porém, observa cada movimento, cada gesto de Hannah. “Ela tá mais linda do que nunca”, pensa ele. “Sua pele bronzeada realça ainda mais o sinal que ela carrega no lábio superior – essa manchinha marrom no lado direito, que ela sempre reclamou, sempre me deixou louco! – e esse vestidinho branco destaca ainda mais os seus cabelos negros cacheados e todo o brilho dos seus olhos verdes...”

- Bom dia moça?

Hannah, ao ouvir a sua voz, pára de desenhar na areia, fecha os olhos e responde:

- Bom dia, Bruce... Você veio voando, cuidado rapaz.

Bruce senta de frente para Hannah e sorri, meio sem jeito.

- Você tá linda...
- E você tá nervoso. Eu nunca te vi assim antes. Será que Bruce tem coração?

Ele percebe o quanto Hannah está magoada. “Eu não posso cometer mais erros”, pensa ele.

- Hannah, eu passei a semana toda indo no seu apartamento. Hoje mesmo eu tava lá antes das 08h e vim de Recife, dirigindo feito um louco, pra a gente conversar numa boa. Eu sei que vacilei, fiz muita merda mesmo, mas nunca te iludi. A gente nunca falou assim um com o outro. Por favor, se desarma e me ouve. Se depois você quiser que eu desapareça da sua vida, é assim que vai ser. Mas, por favor, conversa comigo.
- É Bruce, você tá diferente mesmo. O Wolverine recolheu as garras, desculpa.
- ... Hannah, essas semanas longe de você foram os piores momentos da minha vida. Eu demorei a admitir, mas eu gosto de você, menina. Você não faz idéia do quanto eu senti a sua falta.
- Dá pra imaginar como você ficou mal, Bruce. Mas você saiu com quantas nesse período pra ficar bem?

“Mulher magoada é foda!” – pensa ele, lembrando das palavras da sua mãe.

- Tudo bem, saí com algumas. Mas me sentia péssimo depois, o que já vinha acontecendo há um bom tempo. E já faz mais de uma semana que não saio com ninguém, isso porque não quero outra que não seja você, Hannah.
- E isso é pra valer, Bruce? Eu não quero me machucar mais. Eu sempre deixei claro que gostava de você e soube, sentia, que você também gostava de mim. Mas você nunca expressou isso e quando começávamos a engatar uma convivência mais constante, você sumia. Por quê?

Essas palavras atingiram a Bruce como dardos. A verdade é uma coisa bela e desconcertante. Mas ele respira fundo, segura Hannah pelos ombros e diz:

- Eu sei que fui um covarde por ter medo de aceitar o que sentia por você e, principalmente, de me envolver em algo de longo prazo. Mas agora eu acordei, Hannah, e quero ficar com você. Quando somos solteiros vivemos na esperança de um dia encontrar o nosso verdadeiro Amor. E essa esperança nos faz buscar, experimentar, só que vicia pra caramba. Mas, como todo vício, chega uma hora em que devemos dar ao diabo a sua paga, ou seja, os danos colaterais superam e muito o prazer. E eu já paguei mais do que devia por não aceitar o que sinto por você.
- E o que você sente por mim, Bruce?
- Eu te amo, Hannah...
- ... Me perdoa por ter sido egoísta durante tanto tempo. Fica comigo. Eu to aqui, inteiro, pra você, Hannah.

Hora do torturante silêncio de uns cinco segundos, mas que parece durar uma eternidade...

- Bruce, eu já tava disposta a nunca mais te ver. Aí você vem com essa... Quer me deixar louca é? – ela começa a esboçar um lindo sorriso, acompanhado de algumas lágrimas.
- Precisa não, você é louca por mim mesmo. Sempre foi... – os risos se transformam em gargalhadas.
- Você sabe que tudo tem que ser diferente, né Bruce? Cuida bem da gente.
- Vai ser diferente, Hannah. Eu vou cuidar bem da gente, junto com você. Tudo o que eu mais quero, Hannah, é dormir com você toda noite e te acordar a cada manhã, sem estar de ressaca, e dizer que você é linda, que é a mulher da minha vida e que eu te amo. Quero fazer isso pelos próximos trinta anos, no mínimo.

Os dois, então, se beijam como se fosse a primeira (ou a última) vez. Passam o fim de semana em Maracaípe, mas não surfam juntos de novo, pois só saem do quarto na hora de voltar para Recife.

Depois de três meses retornam a Maracaípe com os amigos e as famílias para se casar de uma maneira bem ao estilo deles: pela manhã rolou um campeonato de Surf e no final da tarde o casamento propriamente dito, numa cerimônia Indu à beira mar, seguida de um luau, com muita bebida e muito Rock’n Roll, tocado divinamente pela Má Companhia.

Bruce alugou a cobertura na rua da Aurora, ele sentiu que Hannah não ficava à vontade ali. E se mudaram em definitivo para Porto de Galinhas.

Eles não sabem se vai dar certo, nem quanto tempo vai durar. Mas, afinal, quem sabe? A vida é tão efêmera que só vale à pena se for vivida sem medo, principalmente de tentar ser feliz. E o que importa é que Bruce e Hannah estão tentando.

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