quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Os Impactos das Mudanças Climáticas em Pernambuco



A América Latina é a região que sofrerá as maiores conseqüências do aumento da temperatura global, decorrente das aceleradas mudanças climáticas. E Pernambuco é o Estado brasileiro que sentirá os seus maiores efeitos, devido à sua localização e disposição territorial (alongada e com muitos microclimas). Se o Estado não adotar imediatamente medidas de prevenção e mitigação dos impactos, a previsão é de que Recife perca mais de 40% do seu território litorâneo com o avanço do mar e Olinda cerca de 15%, até o ano de 2100.

Pode parecer muito tempo, mas é uma falsa impressão considerando a velocidade das alterações climáticas. Isso afetaria profundamente a cidade do Recife, que tem a maior densidade demográfica litorânea em todo o Brasil, com 913 hab/km2, seguida do Rio de Janeiro, 884 hab/km2, e João Pessoa, com 373 hab/km2. Do ponto de vista da perda de riqueza patrimonial, a situação de Recife complica ainda mais, devido à verticalização das construções, sobretudo ao longo da Zona Sul. Essa ocupação ocorreu de maneira irregular, desviando cursos de rios e aterrando regiões de mangues que ocasionaram, entre outros impactos, os ataques de tubarões nas praias da Região Metropolitana do Recife. O estudo “Economia da Mudança do Clima no Brasil”, divulgado pela Embrapa em novembro/09, estima uma conta astronômica para o patrimônio das áreas costeiras, se nada for feito. Pode chegar a mais de R$ 200 bilhões, em cem anos. Já o custo de políticas públicas para reverter o cenário somaria cerca de R$ 4 bilhões até 2050, ou R$ 93 milhões por ano.

Pesquisas mostram também que o aumento da temperatura do planeta vai ter impacto nas atividades agrícolas. Uma das prováveis conseqüências a longo prazo é a mudança no mapa da agricultura brasileira. O estado do Ceará pode perder 80% da área fértil. Já Piauí e Pernambuco podem perder entre 60% e 70% da agricultura. Mudaria a geografia agrícola do Brasil. Mas será que o Brasil estaria preparado para isso? Essa mudança teria uma implicação bastante significativa para a migração, pois as populações destas áreas fatalmente mudariam para outras regiões. Isso acabaria tento impactos nos sistemas públicos de educação, saúde e em tudo que é necessário para viabilizar o bem estar dessas pessoas. Sem esquecer de citar que o impacto será ainda mais negativo para a safra de grãos, o motor do agronegócio no Brasil. As projeções da Embrapa, feitas para o estudo citado, garantem que as perdas devem chegar a R$ 7,4 bilhões em até 2020 e praticamente dobrar, chegando a R$ 14 bilhões, em 2070.

Apesar dessas tendências assustadoras, há um lampejo de coerência e vontade política para evitar ou mitigar esses efeitos, pelo menos aqui no nosso Estado. Pernambuco é o primeiro Estado brasileiro a desenvolver um estudo oficial sobre mudanças climáticas e incorporá-lo à sua política de Governo, através da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio ambiente (SECTMA). Divulgado em outubro/09, o estudo “Propostas Pernambucanas para o Enfrentamento às Mudanças Climáticas” fez um mapeamento geral e apontou soluções para os três problemas mais graves no Estado: desertificação, gestão costeira e urbanismo. Mas essa mudança de postura não é responsabilidade exclusiva das autoridades. Chegamos ao ponto onde cada um de nós deve assumir uma postura proativa em relação à responsabilidade socioambiental, que conclama a todos a lançar um novo olhar para o meio ambiente, para a atividade empresarial, para o consumo e para a qualidade de vida de toda a população.

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