segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

CARNAVAL DE PERNAMBUCO: A VERDADEIRA FESTA DA CULTURA POPULAR



Frevo de Rua, Frevo de Bloco, Frevo-Canção, Maracatu de Baque Virado, Maracatu de Baque Solto, Caboclinhos, Urso, La Ursa, Caretas, Papangus, Caiporas, Escolas de Samba, Blocos, Troças, Bonecos Gigantes... essa variedade de manifestações e folguedos fazem do carnaval de Pernambuco o mais democrático e popular do País.

Alguns folguedos, ou brinquedos – como os folgazões preferem chamar – existem apenas aqui, como o Frevo e os Maracatus de Baque Virado e de Baque Solto. O papel de preservar e valorizar a nossa cultura, os brinquedos e os brincantes não é apenas dever do Estado, mas também de cada um de nós. Por isso lançamos a série de posts ‘Carnaval de Pernambuco: a Verdadeira Festa da Cultura Popular’, onde abordaremos um pouco da história e curiosidades dos principais folguedos do nosso ciclo carnavalesco.

O brinquedo escolhido para abrir a série foi o Maracatu de Baque Virado. Os próximos serão o Maracatu de Baque Solto, Papangus, Caretas e Caiporas, Urso e La Ursa, Caboclinhos e Frevo. Somente conhecendo os nossos próprios valores é que temos condições de respeitá-los e defendê-los verdadeiramente para, assim, conquistar o respeito e a admiração de outros povos e outras culturas. Que esta série sirva como um bom aquecimento para a folia. Boa leitura!
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PERNAMBUCO DAS NAÇÕES DE MARACATU

O Maracatu Nação, ou de Baque Virado, tem sua origem na Instituição dos Reis Negros, ou Reis do Congo, que acontecia em Pernambuco durante o período da escravidão e consistia na coroação de lideranças negras.

Os negros escravizados provinham de tribos africanas que, dominadas por tribos rivais, eram vendidas aos mercadores portugueses. Nesta transação, eram comercializados todos os integrantes da tribo subjugada, inclusive os seus governantes. Chegando ao Brasil, os escravos eram novamente vendidos e levados às fazendas de açúcar onde, mesmo confinados nas senzalas, seguiam os líderes das suas tribos, organizando-se em Nações. Percebendo isso, os senhores de engenho permitiram a realização da Instituição (coroação) dos Reis Negros, com o apoio da Igreja Católica, como forma de controlar mais facilmente o espírito revoltoso dos escravos. Cada Nação seguia politicamente a um Rei aqui instituído e, espiritualmente, a vários Babalorixás ou Ialorixás (Pais ou Mães-de-Santo). No Recife, as Nações Negras eram compostas por pessoas de várias procedências, principalmente de Angola, Congo e Moçambique.

As coroações ocorriam no dia de Nossa Senhora do Rosário, dentro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no bairro da Boa Vista. As cerimônias eram dirigidas pelo Pároco daquela Freguesia. Após a coroação, os negros saíam em cortejo pelas ruas da Cidade até a fazenda, tocando suas alfaias (tambores) e louvando os Orixás, de maneira disfarçada pelo sincretismo religioso, onde cada Orixá era associado a um Santo Católico, o que persiste ainda hoje. Na fazenda, a festa continuava, sob o olhar cuidadoso do capataz e seus assistentes. Sempre que os negros comemoravam datas especiais, como o dia de Nossa Senhora do Rosário e de Santo Antônio, os senhores de engenho utilizavam o termo "maracatu" para definir pejorativamente tal reunião.

Devido ao longo período longe da África e dos seus costumes, os negros adotaram a organização política e os vestuários da Corte Portuguesa nas suas Nações. Além do casal real, existem Príncipes, Embaixadores, Condes, soldados, pajens, vassalos, entre outros. Todos vestidos à Luís XV. Como em toda Corte Real há escravos, nas Cortes das Nações de Maracatu não poderia ser diferente. Eles são representados pelos batuqueiros da Nação.

Do Século XVI até o final do XIX, período da Instituição dos Reis Negros, todas as Nações cultuavam os Orixás-Reis do povo Nagô: Xangô, o deus guerreiro do trovão, e Iansã, a deusa guerreira do relâmpago. No sincretismo religioso, são representados por São Pedro e Santa Bárbara, respectivamente. Na segunda metade do Século XIX, os senhores de engenho destituíram do "poder" os Reis Negros e fracionaram as antigas Nações, temendo uma possível reunião entre elas, o que poderia acarretar rebeliões. A partir daí, os Babalorixás e Ialorixás assumiram o controle dos membros de suas respectivas Nações de Candomblé, fazendo com que outros Orixás passassem a ser cultuados pelos vários fragmentos das Nações Negras. Como havia mais Ialorixás em atividade, a maioria das Nações de Maracatu passou a ser comandada e guiada espiritualmente por mulheres, por isso, o Maracatu de Baque Virado é Matriarcal, ou seja, a Rainha é quem manda e o Rei é só figurativo. Nesta mesma época, as Nações de Maracatu começaram a desfilar no carnaval do Recife.

As coroações continuaram a ser realizadas, tal como antigamente, até o ano de 1980 quando aconteceu a cerimônia de Dª Elda Viana, Rainha da Nação do Maracatu Porto Rico. Esta foi a última coração segundo a tradição Nagô das antigas Nações Negras. No ano seguinte, o Vaticano proibiu tal cerimônia devido à ligação das Nações Negras com o Candomblé. Hoje, as coroações são realizadas no pátio da histórica igreja, que fica de portas fechadas. Ainda assim, continua sendo um belo espetáculo.

Pernambuco foi o berço e é o maior pólo brasileiro de Maracatus que, assim como o Frevo, é um folguedo genuinamente pernambucano. Atualmente existem Nações de Maracatu ou grupos fortemente influenciados por elas em vários Estados do Brasil e outros Países, como Portugal, Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Bélgica, Inglaterra, Finlândia e Holanda.

As atuais Nações de Maracatu em Pernambuco ainda guardam muitas características da Instituição dos Reis Negros. Com o tempo, a tradição religiosa ganhou força, o termo "maracatu" passou a definir oficialmente a manifestação e esta evoluiu para folguedo popular, tornando-se um dos principais elementos na nossa cultura. Além das tradicionais Nações de Maracatu, como a Nação do Maracatu Porto Rico (fundada em 1916), a Nação do Maracatu Estrela Brilhante do Recife (fundada em 1906), a Nação do Maracatu Leão Coroado (fundada em 1880) e a Nação do Maracatu Elefante (a mais antiga, fundada em 1800), existem Nações fundadas recentemente, seguindo os mesmos preceitos e garantindo a continuidade da tradição.

2 comentários:

  1. Boa iniciativa Luiz, é importante a gente valorizar nossas raízes culturais.
    Aloha

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  2. Adorei teu blog =D. Muito legal. Posso copiar esse teu post e colocar no meu blog com teu link no final (todos os creditos claro, rsrs)?

    Beijo,
    Bárbara.

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