segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
A Velha Bruxa
Nesse último domingo fui dar uma volta no Recife Antigo, mesmo sabendo que não seria nem a sombra da efervescência cultural dos dias de carnaval. Andei pela Rua da Guia, onde acontecem os ensaios da Cabra Alada, estava quase deserta. Parei e, por alguns segundos, pude sentir a energia do grupo.
Depois fui à Rua do Bom Jesus, onde rola todo domingo a tradicional feirinha de artesanato. Mesmo nessa época, de ressaca pós-carnaval, a Rua do Bom Jesus continua movimentada. Em meio às barracas caminhavam turistas, músicos e foliões que não se conformavam com o fim do carnaval. De repente, me chamou a atenção um grupo de ciganas devidamente trajadas. Então, comecei a observá-las de perto, e notei que o discurso era o mesmo para todas as pessoas: "Você vai encontrar um belo homem!" - para as solteiras; "Cuidado! Uma mulher próxima a você está fazendo um trabalho para roubar o seu homem." - para as acompanhadas; "Eu vejo um futuro brilhante, muito dinheiro. A sua vida profissional vai dar uma guinada!" - para os homens...
Eis que surgiu uma velha cigana, de olhar penetrante, que contava e cantava histórias. Ela observava pequenos pedaços de papel, tirados dos bolsos da sua grande saia vermelha, e desenvolvia o seu roteiro, como quem lia a sorte de relance, demonstrando total controle do que fazia. De cada papel, saía uma boa história a ser contada e cantada. Uma história de fundação e fundamento. Em cada história, havia gente que voltava a viver, como que por arte de bruxaria.
E assim, a velha bruxa, aos poucos, foi conquistando a atenção de todos e seguia, ressuscitando os esquecidos e os mortos. Das profundezas daqueles bolsos, continuavam a brotar as andanças e os amores - antigos e novos - do bicho humano, que vai vivendo, que dizendo vai...
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