quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Carnaval de Pernambuco V - Caboclinhos


Provavelmente o bailado mais antigo do Brasil, o Caboclinho foi registrado pela primeira vez em 1584, pelo Padre Fernão Cardim, em seu livro “Tratado e Terra da Gente do Brasil”. Esta obra foi o resultado de uma das missões dos jesuítas para catequizar os índios quando, na ocasião, os curumins (crianças) lhes apresentaram as danças indígenas.

Como o próprio nome indica, o Caboclinho é um folguedo de origem indígena. No Nordeste, a palavra caboclo é utilizada para designar aqueles que são filhos do cruzamento entre índio e branco. E os Caboclinhos são os filhos dos caboclos. Esse brinquedo é reconhecido pela sua musicalidade, melódica e percussiva, e também pela sua dança característica, representando um drama que simboliza batalhas, caçadas e colheitas. A música, leve e ligeira, é executada por flautins (flauta indígena com notas predominantemente agudas), bombinhos (surdos de pequenas dimensões, com som entre o médio e o agudo) e caracaxás (ganzás indígenas de alumínio ou latão, também extremamente agudos), algumas Tribos utilizam o reco-reco de madeira. Marcando o ritmo, os dançarinos utilizam os estalidos secos das preacas, conjuntos de arco e flecha, a principal característica dos Caboclinhos.

A dança dos Caboclinhos pode ser individual ou coletiva, fruto de uma coreografia previamente ensaiada. As coreografias são ricas e, entre as mais conhecidas, estão o Ataque de Guerra, a Aldeia, o Cipó e a Emboscada. Entre os toques mais executados, destacamos o de Guerra e o Perré, que é belíssimo. Exceto os músicos, todos os outros integrantes da Tribo se envolvem num bailado rápido, que exige, além de destreza, excelente forma física, pois o tempo todo rodopiam, se abaixam e se levantam agilmente, apoiando-se nas pontas dos pés e calcanhares.

A indumentária dos Caboclinhos é um atrativo à parte. Ricamente enfeitada, é composta de saiotes, cocares, pulseiras e tornozeleiras, todos feitos de pena de ema, avestruz ou pavão, além de colares com dentes de animais e pequenas cabaças presas à cintura. Como todo folguedo, os Caboclinhos possuem seus personagens com funções específicas dentro do bailado: o Cacique (ou Caboclo-Velho), a Índia-Chefe (ou Mãe-da-Tribo), o Pajé, o Matruá, o Capitão, o Tenente, os Perós (crianças), o Porta-Estandarte, os Caboclos de Baque (Músicos) e os Caboclos e Caboclas.

Existe outro folguedo que sempre é confundido com os Caboclinhos, os Grupos de Índios. Estes possuem características próprias que os diferenciam dos Caboclinhos, como o rosto pintado de vermelho, os cocares menores e de penas de garça, ema ou galinha, saiotes de sisal ou outra fibra vegetal e apresentam-se organizados em duas fileiras, com as índias portando machadinhas, de um lado, e os índios conduzindo pequenas lanças, do outro. Sua coreografia, contudo, é igualmente interessante, sendo conduzida por um conjunto com dois flautins, dois maracás e três bombos. Seus Mestres, quase sempre, são seguidores de cultos indígenas, como a pajelança.

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